sábado, 27 de dezembro de 2008

Verdades Preocupantes.

Medina Carreira é considerado um profeta da desgraça, um pessimista nato, alguém que só sabe dizer mal e muitas outras coisas más. Mas a verdade é que, se ele é isso, eu também sou! E não deixa de ser curioso que muitas das coisas que ele diz, já eu também dizia, em conversas com os meus amigos. Outras coisas eu nunca tinha pensado, mas, ao ouvi-lo, não pude deixar de concordar com ele. Claro que não concordo com tudo o que ele diz (embora concorde com quase tudo) mas a verdade é que muito do que ele vem dizendo há já uns anos, se tem vindo a verificar ser verdade. Não vou aqui transcrever o seu pensamento, vou apenas recomendar, a quem tiver tempo (são entrevistas demoradas), pachorra e capacidade de ouvir muitas coisas preocupantes acerca do futuro do nosso país (como ele diz, "se nada for feito"), que o ouça.


A 3 de Julho de 2008, fala do Estado da Nação (43:50 minutos).


A 15 de Outubro de 2008, numa entrevista com Mário Crespo, pronuncia-se (ou não) acerca do Orçamento do Estado (36:03 minutos).


A 11 de Dezembro de 2008 diz que "portugueses vão reagir com muito barulho"(48:01 minutos).


Ao mesmo tempo que nos mostra um futuro preocupante, é delicioso ver alguém que, não tendo aspirações políticas, diz aquilo que deve ser dito sem qualquer tipo de pensamento politicamente correcto. Quem, como eu, já estiver farto desta malta que nos (des)governa e gostar de ouvir umas verdades na televisão (coisa cada vez mais rara neste país), mitigue aqui as suas dores de morte. Eu também as mitiguei!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Obrigado, Sócrates!

O nosso primeiro-ministro, “Eng.” José Sócrates, disse há dias que o ano de 2009 ia ser melhor para os portugueses. Os trabalhadores iam ser aumentados 2,9% (acima da inflação), a euribor estava a descer – prestações da casa mais baixas – e o petróleo também. Por tudo isto, o rendimento disponível dos portugueses ia aumentar significativamente. Antes de esmiuçar estes (e mais alguns) assuntos, acho que temos que agradecer ao “Sr. Eng.”, pelo bem que nos está a fazer!
Comecemos pela euribor. Não há dúvida nenhuma que esta está a descer, mas que influência tem o primeiro-ministro nisso? Curiosamente, quando esta subia, o primeiro-ministro nada fez para mitigar o impacto que esta tinha no bolso das pessoas: era uma maldade que o estrangeiro nos fazia e contra a qual nada se podia fazer. Agora que esta desce, aparece a falar como se fosse graças a ele que isto acontecesse.
Passemos ao preço do petróleo. Também não há dúvida nenhuma que este está a descer, mas que influência tem o primeiro-ministro nisso? Curiosamente, quando este subia, o primeiro-ministro nada fez para mitigar o impacto que este tinha no bolso das pessoas: era uma maldade que o estrangeiro nos fazia e contra a qual nada se podia fazer. Agora que este desce, aparece a falar como se fosse graças a ele que isto acontecesse. (Viram a repetição? Foi propositada).
Agora o aumento de 2,9% dos salários. Quando Teixeira dos Santos elaborou o Orçamento de Estado (OE), nada fazia prever o que se deu a seguir, a falência de vários dos maiores e mais antigos bancos mundiais, das seguradoras (alguns salvos pelos Estados), a crise económica gravíssima que se instalou (lembro que até o BCE andou a aumentar a taxa de referência até à última hora, muito preocupado com a inflação, quando já tanta gente dizia que a crise estava aí, que o mundo estava à beira da recessão e quando era óbvio que as pressões inflacionistas eram provocadas única e exclusivamente pela especulação à volta do preço do petróleo) e apenas por isso, tendo por base uma previsão de uma taxa de inflação de 2,4 ou 2,5% e sem contar com a recessão, é que propôs aumentos de 2,9%. Depois, com a sua habitual teimosia, recusou rever os pressupostos em que assentou a elaboração do OE, não mexendo, portanto, nos aumentos salariais nem em mais nada, fazendo com que o OE de 2009 seja um orçamento completamente irrealista e impossível de cumprir. Nada daquilo vai acontecer, deverá haver necessidade de fazer um orçamento rectificativo e o défice vai disparar, mas isso não interessa: vamos ter que voltar a pagar isso em 2010, 2011, 2012, mas isso é já depois das eleições e o que interessa é ganhar. Portanto, digo que se o orçamento fosse apresentado agora, os aumentos salariais não iriam além de 1,5%. Enfim, os portugueses foram salvos, em 2009, por uns aumentos que foram feitos com base em pressupostos que se verificou serem errados (eu lembro que já se fala em deflação).
Mas, já que estou com a mão na massa, toco aqui em mais uns pontos que são (na minha opinião) interessantes.
Um, é que, para Sócrates, Portugal não está em recessão. Parece o discurso de Cavaco Silva no seu último mandato como primeiro-ministro, o discurso do oásis. Depois, vangloriou-se com o facto de Portugal ter crescido 0% no terceiro trimestre de 2008. Com este magnífico resultado, só faltou lançar foguetes. E agora, feitas melhor as contas, parece que, afinal, o país decresceu 0,1%, o que vai fazer com que Portugal entre em recessão ainda em 2008. Mas isso é grave? Não!! Os outros estão piores! Ah, pronto, então está tudo bem! E quando estamos em fase de crescimento, que dizer do facto de crescermos sempre menos que os outros?
O outro, diz respeito a crescimento e recessão, em que estou completamente de acordo com o Professor Medina Carreira (pessoa que eu admiro bastante pela sua lucidez, coragem e frontalidade), que diz que quando a Europa cresce, nós crescemos; quando a Europa decresce, nós decrescemos; e que nós começamos a crescer sempre depois da Europa, normalmente menos do que a Europa e começamos a decrescer sempre depois da Europa. Mas a conversa dos nossos governantes é outra e sempre a mesma, independentemente de qual dos partidos temos no governo: quando cresce, é graças ao governo; quando decresce, é culpa da conjuntura internacional e antes de começar a decrescer, é que nós estamos imunes ao exterior. Toda esta conversa é conversa para enganar o pagode, pois nós andamos ao sabor da conjuntura internacional e não há governo nenhum que consiga, em quatro anos, fazer Portugal imune às oscilações da economia internacional. E muito menos com o que se anda a fazer ao país, sobretudo ao nível da educação – que nós vamos pagar muito caro, no futuro – e ao não se resolverem os problemas da justiça, que é morosa e, normalmente, fonte de impunidade. Estes são dois problemas muito graves e entraves importantes ao desenvolvimento do país e sobre os quais ou não se faz nada, ou o que se faz é no sentido de destruir. A acrescer a tudo isto, temos uma enorme falta de estabilidade fiscal que, assim como me provocam dores de morte a mim, provocam-nas também nos possíveis investidores estrangeiros em Portugal.