Morreu Raúl Solnado, uma das figuras mais simpáticas do mundo do espectáculo em Portugal. Apesar de não ser dos meus comediantes favoritos, era uma pessoa que me habituei a simpatizar e a ouvir e a ver, se não com uma gargalhada, pelo menos com um sorriso de simpatia e de carinho. Quando eu era mais novo, era muito mais admirador de Raúl Solnado enquanto comediante, mas com o evoluír da idade essa admiração foi diminuindo, sem no entanto me esquecer e continuar a achar imensa piada às suas prestações em situações como a da guerra de não sei quantos ou na peça "Há petróleo no Beato". Pronto, isto para dizer que era uma pessoa de quem eu gostava mas sem exagero. E gostei de ver a quantidade de gente que foi ao seu funeral, sinal de que era uma pessoa amada pelo povo português. E apreciei esse acorrer do povo ao seu funeral, também por ver que, por vezes, os portugueses sabem ser mais civilizados que outros povos de países mais desenvolvidos que o nosso, ou seja, o povo soube mostrar a tristeza pela morte de Raúl Solnado e a sua admiração pelo actor sem histerismos ou sem os exageros que se veem lá fora, nomeadamente como no caso recente da morte do Michael Jackson: não houve gritaria, não houve histerismo, não houve tentativa de arrancar cabelos, não houve cerimónias fúnebres em campos de futebol ou de basquetebol, não houve tentativa de vender revistas ou arranjar audiências televisivas com bodes expiatórios supostamente culpados da sua morte nem com a invenção de filhos à última hora... Houve lágrimas (mas uma lágrimazita até eu soltei), houve palmas e houve respeito.
E, claro, também houve algum aproveitamento! O ministro dos negócios estrangeiros lá apareceu, e lá mandou a sua asneada! Disse que Raúl Solnado foi um lutador pela liberdade e pela democracia, quando isso é tudo mentira. Raúl Solnado foi uma pessoa que tanto viveu sem problemas durante o Estado Novo como após o golpe militar de 1974, precisamente porque o seu humor e o seu trabalho nada tinham de político. E se algum problema teve, até terá sido mais no pós 25 de Abril, em que optou por não alinhar com ideias destrutivas comunistas. E nessa altura, muitos dos actores e cantores e fadistas que foram chorar lágrimas de crocodilo ao seu funeral bem que o tentaram afastar, precisamente por não alinhar com os "metralhas" que mandaram neste país e por nunca se ter transformado em comunista. Sim, uma boa parte de gente conhecida são uns "metralhas" que prosperavam no Estado Novo e viraram comunistas após o 25 de Abril e só lá foram para aparecer e mostrar sentimentos que não têm, mas que fica bem mostrar, até para sua publicidade! E quanto ao ministro ou outros manipuladores da obra de Raúl Solnado, cabe-me dizer que, por exemplo (e foi isto que foi citado, para tentar enganar o povo), a história da guerra de mil novecentos e troca o passo nada tem de crítica à guerra do ultramar; é simplesmente uma história engraçada e que, se algo de político aquilo pode esconder (mas eu continuo a achar que não esconde) é precisamente o contrário, é o mostrar a guerra como algo de engraçado e até de amigável e inócuo! Ninguém sério intelectualmente (ou que não seja burro, claro, que também aí os há aos montes - e então entre jornalistas, políticos e pessoal do mundo do espectáculo e da televisão é um disparate!) pode ver ali uma crítica à guerra de África. Nada. Zero! E ninguém que ouça aquela história pode ficar com outra ideia que não seja a que a guerra até é engraçada.
Mas eu já estou habituado a estes disparates! Acho imensa piada quando ouço os actores que até viviam bem no tempo de Salazar, virem dizer que faziam e que aconteciam, que faziam textos muito bons antigamente que era para fazer críticas sem que os censores topassem! Mas o extraordinário era que toda a gente percebia as críticas, excepto os censores, que eram burros, se calhar! Mas alguém de juízo acredita nisso? Mas alguém acha que os censores não percebiam uma boquita ou outra que ali passava? As boquitas passavam porque eles deixavam, porque eram coisas que não faziam mal a ninguém. Mas não, eles acham-se muito inteligentes porque conseguiam enganar a censura! Tristes idiotas! Se a imbecilidade pagasse imposto...
Mas eu já estou habituado a estes disparates! Acho imensa piada quando ouço os actores que até viviam bem no tempo de Salazar, virem dizer que faziam e que aconteciam, que faziam textos muito bons antigamente que era para fazer críticas sem que os censores topassem! Mas o extraordinário era que toda a gente percebia as críticas, excepto os censores, que eram burros, se calhar! Mas alguém de juízo acredita nisso? Mas alguém acha que os censores não percebiam uma boquita ou outra que ali passava? As boquitas passavam porque eles deixavam, porque eram coisas que não faziam mal a ninguém. Mas não, eles acham-se muito inteligentes porque conseguiam enganar a censura! Tristes idiotas! Se a imbecilidade pagasse imposto...
Para finalizar, uma nota aos jornalistas: quando penso nesta classe lembro-me uma história que li, em que um indivíduo (o Dr. Assis, uma personagem inventada mas inspirada num professor da Universidade de Coimbra de finais do séc. XIX), para alertar um amigo que tinha ficado de o ir buscar a cavalo à estação de comboio, avisa por telegrama que afinal ia levar dois amigos com ele e que, portanto, seriam necessários três cavalos, e escreve o seguinte: "eu e mais dois amigos, três cavalgaduras"! A quantidade de vezes que eu ouvi dizer que Raúl Solnado era uma personagem "impar"! Mas saberão os Srs. jornalistas o significado da palavra "impar"? É que 3, 5, 7, 9, 11, 105, 123.452.654.213 são números impares! Essa malta é tão ignorante que não consegue distinguir entre impar e único! Tal como não conseguem distinguir "concurso" de "passatempo" (passam a vida com concursos em que nos habilitamos a ganhar prémios ou dinheiro e a chamar-lhes passatempos, como se estivessemos a fazer palavras cruzadas, jardinagem, ou a jogar xadrez). E ainda temos a última que ouvi (e com esta me fico, pois este assunto da burrice de jornalistas dava para fazer uma crónica comprida, comprida, comprida...) foi a de que, por lei, o pão só podia levar 1 e tal por cento de sal por Kg; isto é extraordinário, pois isto leva-me a pensar que se eu fizer meio Kg ou 750 g de pão essa percentagem já não necessita de ser respeitada! Perdoai-lhes, Senhor, que não sabem o que dizem! E façam o favor de ser felizes!