sexta-feira, 13 de março de 2009

O crescimento da esquerda.


Não é novidade para ninguém que vivemos uma grave crise económica e financeira mundial. O capitalismo selvagem levou um forte abalo e as pessoas sentem na pele a crise e muitas descrêem agora do casino que era muito deste capitalismo, onde as pessoas eram possuidoras de riqueza que não existia, era tudo riqueza especulativa, as coisas não valiam de facto o que se dizia que valiam, e toda a gente vivia acima das suas possibilidades, iludindo-se que era rica. Isto é também o que acontecia em Portugal: o crédito fácil e barato e o dinheiro que chegava lá de fora (e ainda há muito a chegar, atenção!) dava às pessoas a ilusão de que eram ricas ou remediadas, em vez da realidade de que são remediadas ou pobres (isto a maioria, pois uns tinham a ilusão de que eram estupidamente e obscenamente ricos e afinal eram só ricos ou muito ricos, pois as suas fortunas esfumaram-se na bolsa). Viveu-se, portanto, a ilusão (muito incutida pelos meios de comunicação social, que iludem os mais novos) de que Portugal, após o 25 de Abril, ficou mais rico e mais próspero e que recuperámos do atraso em que o Estado Novo nos mergulhou (como se o atraso tivesse sido causado pelo Estado Novo e não fosse um atraso crónico, que existe desde que Portugal é Portugal). Nada mais falso, como pode constatar agora qualquer pessoa minimamente inteligente ou que não seja intelectualmente desonesta. Podemos constatar que tudo, desde o 25 de Abril, foi uma ilusão que se viveu, onde vivemos constantemente acima das nossas possibilidades dando assim a sensação de que estávamos melhores, primeiro à custa do imenso ouro que Salazar nos deixou (era a 3ª maior reserva de ouro do mundo), depois dos fundos do FMI, depois dos fundos da União Europeia, e ainda do recurso ao crédito e endividamento no exterior, que algum dia terá que ser pago.
Ora, quando o país vai para o buraco interessa defender a “seita” que o parasita, importa defender o regime, importa convencer o povo (sobretudo os mais jovens, pois os mais velhos viveram no tempo de Salazar e sabem bem que isto são quase tudo mentiras – daí vir a velha máxima, a de que são velhos e, portanto, saudosistas, como se fosse possível ser-se saudosista de um tempo mau e de sofrimento) de que isto até nem está bem, mas antes era tudo muito pior, que era uma sardinha para 3 (quem não ouviu esta história repetida até à exaustão), o que nos leva a pensar que antigamente as famílias eram todas constituídas por múltiplos de 3, ou que se vendiam terços de sardinhas (“olhe, dê-me aí uma sardinha e um terço de outra, pois a minha família tem 4 pessoas!” – “sim senhor, quer a parte da cabeça ou do rabo?” – “dê-me a do meio, que tem mais carninha”), que não se podia falar (como se hoje pudéssemos – alguém tente escrever alguma coisa contra o governo e vai ver onde se mete, se não leva processos disciplinares ou processos em tribunal), que o povo era muito ignorante (vejamos quem construiu a maior parte das escolas de hoje, comparemos o ensino rigoroso de então com a rebaldaria e “reprodução de ignorância” de hoje, e vejamos, sobretudo, o que era o ensino antes do Estado Novo, para vermos se o objectivo da época era a ignorância ou se, pelo contrário, se partiu do estado zero para a construção de escolas, universidades, ensino rigoroso, ou seja, se o investimento no ensino em Portugal não foi o maior de sempre), e outras baboseiras, muitas delas contadas com anacronismos gritantes, acusando o Estado Novo de coisas que, de facto, hoje são impensáveis (sobretudo ao nível da moral), mas que na altura eram assim em Portugal e eram assim em todo o mundo; mas que era assim em todo o mundo não se fala.
Enfim, os portugueses que cresceram depois do 25 de Abril são bombardeados com mentiras pelos nossos governantes e pela comunicação social e não se imaginam a viver no mundo que lhes é contado, quando comparado com o mundo de ilusão em que viviam e, quando o mundo de ilusão se desmorona, é preciso denegrir o Homem que personificava o Estado Novo (fazem-se séries de televisão fantasiosas ou põem-se indivíduos que nunca privaram com ele a dizer como é que ele era na intimidade, no dia a dia), denegrir o Homem que tinha dois contadores da luz no palácio de S. Bento – um para a zona oficial, pago pelo Estado, e outro para a zona onde vivia, pago por ele (alguém acredita que hoje em dia ainda é assim?) – o Homem que se mandasse o carro oficial fazer-lhe um recado pessoal dava dinheiro dele ao motorista para que pusesse gasolina no carro, o governante português mais sério que existiu, um dos poucos governantes da história de Portugal que mandou no país durante cerca de 40 anos e morreu, não diria pobre, mas com a quinta do Vimieiro e nada mais (comparem-no com esta malta que lá anda, que ao fim de meia dúzia de anos estão riquíssimos e, muitos deles, envolvidos em escândalos de corrupção – como eu os compreendo no medo que têm ao Salazar, que é um péssimo exemplo para eles e que os não deixaria andarem no saque ao erário público em que andam).
Mas, quando se poderia (e deveria) ver a verdadeira direita a subir (que, no fundo, é grande, como se viu, por exemplo, quando Salazar ganhou o concurso do “maior português de sempre”), eis que se nota que as pessoas de direita continuam iludidas com o CDS e o PSD (que não são quem nos representa), que se vê o centro fugir para o PS e se assiste, pasme-se!, ao crescimento da extrema esquerda. Claro que eu posso compreender um pouco essa tontice por parte dos mais jovens, que não são bombardeados com as verdades do que se passou após o 25 de Abril, com o que a esquerda fez e com o que tentou fazer e não conseguiu, como o são com as mentiras que se contam do Estado Novo e que, a maior parte das vezes, anda alienada do que se passa na sociedade e ignorante e incapaz de pensar em coisas que não sejam futilidades (como telemóveis, música rock, roupa de marca ou da Zara, cinema de pancadaria, álcool ou drogas), acha que tem amigos numa esquerda que defende algumas das suas tontarias próprias da idade, mas que se chegasse ao poder mais não faria do que terminar com tudo o que os jovens apreciam na sua futilidade. Alguém acredita que o comunismo (seja ele estalinista, maoista, trotskista, castrista ou outro qualquer mais ou menos radical) deixaria a juventude entregue aos charros, à roupa de marca ou da Zara, aos telemóveis topo de gama ou outra coisa qualquer que o capitalismo proporciona aos jovens e que jamais houve em qualquer país comunista? A juventude havia de ir viver para Cuba algum tempo (viver e trabalhar, não é levar vida de turista, como a que leva lá quem para o ocidente vem gabar Cuba) ou para a Coreia do Norte passar fome, para ver o que o comunismo ou a extrema-esquerda lhes dá! Os jovens que andam aí armados em rebeldes e defensores das teorias económicas utópicas dessa gente, nomeadamente bloquista, haviam de poder por em prática num qualquer recanto do mundo aquilo que esses senhores defendem, para ver ao fim de quanto tempo estavam a passar fome e a tentar fugir para um país capitalista (e atenção, eu não sou, e posso-me gabar de nunca ter sido, defensor do capitalismo selvagem e neo-liberal).
Mas o que eu não consigo compreender é que muita gente, como voto de protesto, alinhe em votar em partidos que não são defensores dos seus ideais. As pessoas que não concordam com o estado a que o país está a chegar por causa dos dois maiores partidos, ao fazerem um voto de protesto na extrema-esquerda, estão a levar esses tontos que nos governam a pensar que o povo está a virar à esquerda e tendem a tomar cada vez mais medidas de esquerda que apenas levam à ruína do país. Porque é claro que toda a gente acha que os trabalhadores deviam ganhar mais, que deviam ter mais direitos, que as empresas deviam pagar mais impostos, etc., etc., etc.. Mas as coisas não podem ser feitas assim só porque isso é justo. Porque no mundo globalizado em que vivemos, esse tipo de medidas impostas por governos, apenas levaria a que as empresas se deslocalizassem para países onde os trabalhadores têm menos direitos e os impostos são mais baixos. E essas medidas demagógicas e utópicas que esses partidos propõem apenas levariam a um desemprego cada vez maior por via da deslocalização e de falências de empresas que não conseguiriam competir com a concorrência exterior.
Portanto, não é certo nem é viável uma viragem à esquerda e é terrível assistir ao crescimento de quem apenas nos levaria à miséria. É errado fazer-se um voto de protesto em quem apenas diz “esfola” a quem nos quer matar. E assistir a isto, causa-me dores que, mais do que de morte, são de esfolar vivo. Porque é urgente que esse voto de protesto seja feito num partido de direita que leve o país para o caminho certo. Pena é que, neste momento, esse partido não exista… Mais vale votar num pequeno partido de direita que já exista (mesmo não sendo o ideal, mesmo não sendo o verdadeiro representante da ideologia da generalidade dos portugueses ou não seja integrado apenas por gente decente), a ver o que dá.

3 comentários:

Anónimo disse...

Amigo, confirme-me qual a fonte de informação que utilizou para aqui afirmar que em 1974 a 800 toneladas de ouro do Banco de Portugal eram a 3ª maior reserva mundial, por país. A informação que eu disponho é que era a 7ª, e não a terceira, mas estou sempre pronto a confirmar? E você?

Anónimo disse...

Já agora, e só para não ficar a pensar que eu faço distinção entre sermos a 3ª ou a 7ª Reserva de ouro mundial.. é que actualmente as 480 toneladas que ainda restam no BP, representam pouco mais de 5%, da nossa divida acumulada ao exterior, enquanto que em 1974 a nossa divida era totalmente coberta e ainda havia um saldo positivo significativo pelas 800 toneladas de ouro que salazar legou á nação, em troca da hipoteca do nosso futuro.

Batinas disse...

Não sei dizer onde li que era a terceira maior reserva de ouro do mundo, nem vou discutir se era a 3ª ou a 7ª, pois é uma coisa irrelevante. O relevante é o que o Sr. admite: era uma das maiores do mundo (para um país da nossa dimensão e vindo praticamente da banca rota) e dava para cobrir a dívida externa. Na verdade, nem sou uma pessoa que defende muito do que Salazar fez, apenas estou saturado do que esta corja de políticos tem feito ao nosso país ao longo de 35 anos, em nome de uma democracia que pouco mais é do que muitas palavras e umas eleições de 4 em 4 anos; e nestas alturas de saturação, é natural que as pesoas (como eu) olhem para trás e vejam que, se calhar, e apesar das aparências e da verborreia dos políticos e dos jornalistas, isto não está melhor do que estava em 1974. Com a agravante de que antes tinhamos dinheiro e hoje estamos endividados até ao pescoço.
Quanto ao que o sr. refere como o hipotecar o nosso futuro em troca de um legado de 800 toneladas de ouro, diga-me lá se o que se está a fazer ao nível da educação, da justiça e do endividamento externo não é hipotecar muito mais do que nos deixar 800 toneladas de ouro; e se com esse ouro todo que, reconheço, era exagerado para um país atrasado como o nosso estava (e continua) não podia ter sido muito melhor aproveitado (se tivesse sido usado por gente séria e competente, com vontade de servir o país e não servir-se dele) e hoje termos menos ouro mas estarmos com muito melhores perspectivas de futuro do que as que temos agora? É que o país está cada vez pior (apesar do ouro gasto, do dinheiro do FMI e dos fundos comunitários) e ainda estamos endividados até ao pescoço e sem perspectivas, a continuar assim, de alguma vez se pagar o que devemos. E com cada vez maior probabilidade de, a breve prazo, perder a capacidade de endividamento externo. É que antes eramos pobres mas não deviamos nada a ninguém; agora continuamos pobres, vivemos na ilusão de que somos ricos, e não temos já como pagar o que devemos. Nós é que estamos a hipotecar o futu,ro das gerações vindouras, dixando-lhes um país pobre, atrasado, ignorante, onde a justiça não funciona e dívidas para pagar, deixadas pelo regabofe de uma pseudo democracia de centro que desbaratou tudo o que tinha e tudo o que não tinha.