segunda-feira, 27 de julho de 2009

A "tirania" do PIB.

Pretendo um dia dar a minha opinião, neste blogue, acerca da “tirania” do PIB e dos absurdos a que a sua utilização como medida absoluta da qualidade de vida da população de um país podem levar. Entretanto, e enquanto a falta de tempo ou a preguiça me impedirem de explanar por escrito a minha opinião acerca desse tema, deixo aqui um texto da autoria de João Pinto e Castro - Director Geral da Ology e docente universitário – que me pareceu bastante interessante. Confesso que não lhe paguei direitos de autor nem tão pouco lhe pedi autorização para utilizar o seu texto no meu blogue, mas como uso o texto dele numa perspectiva de apenas divulgar aquilo que são as suas ideias extremamente lúcidas e, na minha opinião, uma pedrada no charco no meio da teoria económica vigente, e não com ideia de lucrar algo ou dizer mal dele, acredito sinceramente que, mesmo que venha a saber, não me irá processar!

“As gerações actuais devem ter dificuldade em acreditar que houve um tempo em que a discussão política não se centrava nas convulsões do PIB [Produto Interno Bruto], mas essa é a mais pura das verdades.
Para começar, os sistemas de contabilidade nacional hoje usados foram inventados há apenas 70 anos. Antes disso, ninguém sabia ou cuidava de saber a variação homóloga da produção no último trimestre. Uma vez generalizado o método de medição, demorou ainda algum tempo (e muita lavagem ao cérebro) até que a opinião pública o aceitasse sem reservas como uma razoável aproximação do bem-estar colectivo.
Hoje, porém, poucos contestam a bondade do PIB como critério supremo de avaliação da acção política. Estamos a crescer mais ou menos? Acentuou-se ou reduziu-se a distância em relação aos outros países? A América é mais dinâmica do que a Europa? E o Governo estimula ou tolhe o PIB?
Transformar a soma de batatas com cebolas numa operação razoável foi um feito notável dos economistas, cuja relevância depende, todavia, da aceitação da equivalência entre acumulação de bens materiais e felicidade. Como toda a obra humana, também este "felicitómetro" tem os seus defeitos: o produto nacional aumenta se eu contratar uma mulher-a-dias, mas reduz-se, contra toda a evidência, se eu me casar com ela. É assim porque a contabilidade valoriza as transacções monetárias e desdenha as que não envolvem dinheiro. Mais complicado ainda é computar a riqueza gerada quando, ao contrário do que há escassas décadas sucedia, uma grande maioria da população não produz hoje nem batatas nem pregos, mas serviços intangíveis. O engenho dos economistas logrou, porém, superar essas e outras dificuldades de natureza mais técnica. Pelo menos, é assim que pensam os crentes.
Terão razão? A produtividade da UE é, dizem-nos as estatísticas, superior à dos EUA. Porém, como os americanos trabalham em média mais horas, o produto per capita deles é maior que o dos europeus, de onde decorre que eles são mais felizes do que nós. Este raciocínio absurdo explica-se pelo facto de o lazer não ser valorizado por este sistema: trabalhar mais é sempre bom, independentemente das consequências que isso tenha sobre a saúde psicológica e mental dos indivíduos e das famílias.
Mais: para a contabilidade nacional, um euro é um euro, sem interessar quem o recebe. Está aqui implícito que a desigualdade não afecta a felicidade dos cidadãos, embora nós saibamos (e a teoria económica o confirme) que um euro adicional proporciona mais felicidade a um pobre do que a um rico.
Nos tempos longínquos em que o ensino público básico gratuito foi introduzido na Europa, a poucos interessava que isso pudesse eventualmente contribuir para aumentar a produtividade da população. O benefício esperado da educação era, primeiro, a própria educação e, segundo, a promoção da cidadania. Hoje, porém, não só os investimentos na educação, mas também na cultura, na saúde e, mais recentemente, na própria justiça, são olhados com desconfiança se não contribuírem de alguma forma para promover a competitividade das empresas e do País. Tudo o que pareça incomodar o PIB estará ipso facto tramado.
Graças a Deus - há-de haver por força algo de divino nisto - alguma investigação económica parece sugerir que aquilo que é bom para as pessoas acaba mais tarde ou mais cedo por revelar-se bom para a economia. Não sei, todavia, se poderemos ficar tranquilos, dado que, segundo Fogel (Nobel da Economia em 1993), a escravatura era um regime de trabalho eficiente à data da sua abolição nos EUA.
Faz sentido que privilegiemos o objectivo de produzir mais e mais coisas quando a esmagadora maioria dos cidadãos vive na pobreza absoluta, mas as prioridades deveriam ir-se alterando à medida que a carência extrema se reduz e que outros factores se revelam mais decisivos para a promoção da dignidade humana.Nem o PIB nem qualquer outro indicador sintético são capazes de, isoladamente, elucidar-nos sobre o grau de bem-estar de uma sociedade. Para isso, precisamos de uma pluralidade de metas variáveis em função das circunstâncias e dos desafios do momento. Já que, nesta era obcecada pela quantificação (mesmo que espúria), estamos condenados a trabalhar para as estatísticas, ao menos que seja para aquelas que mais interessam.”

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Os cornos do "Manuelinho".

Em 1637, em Évora, rebentou uma revolta por causa do aumento dos impostos e contra a dinastia filipina que então reinava em Portugal. Segundo rezam as crónicas, os responsáveis pela revolta terão sido o Procurador e o Escrivão do Povo, no entanto, as ordens para o movimento, a fim de manter o anonimato dos impulsionadores, apareceram assinadas pelo “Manuelinho”, um pobre tolo da capital alentejana.
Mais de 360 anos depois, eis que o “Manuelinho” voltou, mas desta vez para o governo. Desculpem-me, mas eu não consigo de deixar de me lembrar, de cada vez que o via, do “Manuelinho”. Já não quero falar na cara dele – que é a do “Manuelinho”, de certeza – mas das coisas a que nos habituámos a ouvir do sujeito. Desde apregoar na China para investir em Portugal, pois nós tínhamos mão-de-obra barata; até decretar o fim da crise (vê-se!); passando por receitar a ingestão de “papa Maizena” (passe a publicidade – e confesso que não pensei que Maizena era papa, julgava que era uma farinha com fins culinários diferentes da simples ingestão com leite ou água [ou vinho, como teria sido o caso antes de proferir estas declarações], mas confesso que essa não é a minha especialidade, ficaria mais esclarecido se tivesse falado em Nestum ou Cerelac – mais uma vez, passo a publicidade) a Paulo Rangel, até ao culminar, com os cornos que mostrou (estava a mostrá-los, ou a insinuar que Bernardino é que os tinha?) a Bernardino.
Sinceramente, pareceu-me excessiva a demissão do “Manuelinho” pelo simples facto de ter feito o gesto que fez. Como é óbvio, esta demissão apenas aconteceu porque estamos a 3 meses das eleições e porque o PS levou a “tareia” que levou nas europeias, senão isto tinha passado incólume como passaram as suas anteriores “calhoadas”, as baboseiras de Mário “Jamé” (o do deserto) ou a má educação e arrogância constante de ministros como Silva Pereira (nomeadamente numa entrevista com Mário Crespo) ou Santos Silva (o que gosta de malhar na direita, lembram-se?) ou a suprema falta de respeito de Sócrates de cada vez que vai à Assembleia da República, na maneira jocosa com que trata os lideres das bancadas parlamentares da oposição.
“Manuelinho” foi, portanto, vítima do timing em que fez mais uma das suas, senão nada se teria passado. No entanto, mesmo no momento da saída a coisa foi, mais uma vez, atabalhoada, com o Ministro a dizer que tinha condições para continuar e, mais tarde, a dizer-se que tinha pedido a demissão já depois de ter sido despedido. E apareceram ainda vozes a louvar o trabalho do ex-ministro, dizendo que ele tinha operado maravilhas (como a Besta, no livro do Apocalipse) e que apenas não tinha o dom da palavra e que não era um político, dizendo que se fartara de trabalhar, que tinha um currículo invejável… tenham dó. Só pode louvar o trabalho deste ex-ministro quem beneficiou com as suas acções (e serão poucos), quem é da cor dele ou quem não tem vivido neste país! (aliás, por tocar neste assunto, deixai-me também felicitar Afonso Candal pelo seu discurso na AR no dia do debate de estado da Nação: gostei muito do país que falou, deve ser um sítio espectacular para viver; se ele ler estas linhas, espero que escreva nos comentários deste blogue qual é esse país, pois estou mesmo a ponderar a hipótese de emigrar para lá!). Quanto ao currículo, quem não conhecer esta malta, que os compre. Enquanto estudante, tive oportunidade de conhecer professores mentecaptos com currículos invejáveis; enquanto cidadão, tenho oportunidade de ver que esta malta começa, desde recém licenciados (às vezes antes), como chefes de algo e vão circulando de empresa em empresa, de instituto público em instituto público, sempre em lugares de chefia, sem terem passado por baixo, sem saberem o que estão a chefiar, sem saberem nada de nada, mas sempre a acrescentar ao currículo que foram chefes disto, chefes daquilo… Que competência, a destes senhores! Acrescentem à lista de sumidades com currículos invejáveis Dias Loureiro (o tal que tinha ordenado principesco no BPN por ser de uma competência rara mas que agora, quando a coisa dá para o torto, já vem dizer que afinal o que fazia era assinar papeis sem os ler – devolva os ordenados que recebeu se afinal não fazia nada nem sabia nada do que ali andava a fazer), Oliveira e Costa e Jardim Gonçalves, tudo malta de grandes currículos (e gente séria…).
Desculpem lá, mas um indivíduo que durante 4 anos mais não fez do que fazer ao povo, sub-repticiamente, o que fez naquele dia ao deputado Bernardino Soares às claras, já devia ter sido corrido há muito tempo e não só agora porque o fez à descarada a um deputado. Faz-nos pensar se um deputado (ainda por cima comunista) vale mais do que dez milhões de pessoas.
Ah! Mas não se preocupem com o “Manuelinho”, pois ele não vai para pior pelo facto de ter sido despedido. Tenho a certeza absoluta que vai receber uma belíssima indemnização e lhe vão arranjar um tacho ainda melhor, com menor exposição pública (para não voltar a fazer ou a dizer, em público, asneiras) e a ganhar muito mais dinheiro do que ganhava como ministro, seja numa empresa pública, seja num instituto público, seja numa Fundação privada tipo Fundação das Telecomunicações (que funciona em instalações do Estado, com pessoas nomeadas pelo Estado e que eu não acredito que tenha sido criada apenas para adjudicar o fornecimento de computadores Magalhães a uma empresa privada – será que é de amigos, ou é só porque é muito boa empresa? – sem concurso público), seja numa das empresas que beneficiou enquanto foi ministro. E saber que o “Manuelinho” fica bem, é um analgésico para as minhas dores!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Morte do Michael Jackson.


Morreu o cantor Michael Jackson. Milhares de pessoas por todo o mundo choram a sua morte e prestam-lhe homenagens, como se o homem tivesse feito algo de bom pela humanidade. Se morresse um galardoado com o prémio Nobel da medicina (ou mesmo que não tivesse ganho o Nobel mas que tivesse feito grandes descobertas nessa área ou outra área de importância para a humanidade), o choro limitar-se-ia a pouco mais do que familiares e alguns amigos. Isto só vem mostrar o poder do marketing (sobretudo dos americanos, habituados a fazer de criaturas, quantas vezes com pouco valor, quase semi deuses para pessoas de mentes mais fracas) por um lado e a completa inversão de valores e de prioridades que se vive no mundo ocidental.
Não me quero alongar muito neste assunto, quer porque não tenho muito a dizer acerca disto, quer porque seria dar importância excessiva a quem a não tem (e se falo na morte de Michael Jackson não é pela importância que lhe dou, mas antes pelo disparate de que a sua morte tem vindo a ser alvo), por isso vou aqui apenas tocar nos dois tópicos que referi acima.
Em primeiro lugar, falar da inversão de valores, que é notória no facto de tanta gente que contribuiu para o progresso da humanidade e ninguém chorar a morte delas, de, muitas vezes, ser dada a notícia de raspão no noticiário ou num artigo de um oitavo de página no meio de um jornal; e para um cantor (que nem vou aqui discutir a qualidade, para não entrar em mais polémicas ainda) serem dadas honras de abertura de noticiários durante vários dias, e de primeiras páginas de jornais. Numa altura de crise económica gravíssima, de milhões de pessoas a ficarem ainda mais pobres, de aquecimento global, de uma crise política enorme num país altamente problemático como é o caso do Irão, de tragédias por esse mundo fora, se dá esta situação completamente desproporcionada de choro mundial por causa de um indivíduo que há vários anos não fazia nada, que vivia de rendimentos de discos vendidos e de concertos dados há já vários anos e que, apesar de ganhar obscenidades, ainda tinha necessidade de contrair milhões de dólares de dívidas; de um indivíduo que o que fazia na vida era cantar e dançar e que foi várias vezes acusado de molestar menores! Um indivíduo que era nítido que, mais do que um excêntrico, era alguém bastante perturbado e se não fosse famoso e muito rico, era provável que tivesse passado os últimos anos da sua vida internado num qualquer hospital psiquiátrico – mas ele não era maluco, pois como era rico, era excêntrico! É pela morte de um indivíduo destes que milhares de pessoas choram baba e ranho pelo mundo fora, como se de um messias se tratasse.
Quanto ao marketing americano, não há dúvida que Michael Jackson é um produto de uma indústria muito bem organizada e que consegue criar mitos em criaturas que, se calhar, nunca se deviam sequer ter dedicado ao mundo do entretenimento. Não vou discutir aqui se é ou não o caso de Michael Jackson, mas os americanos são especialistas em criar nomes endeusados e explorar esses nomes até ao tutano. Michael Jackson era um desses nomes que não merecia tanta fama nem tanto endeusamento. Preparem-se agora, que os americanos vão explorar isto até ao tutano: os discos que ainda há já estão a esgotar e, nos próximos anos, vamos ter lançamentos de inúmeras colectâneas de CD’s de Michael Jackson sempre com as mesmas músicas mas que os otários lá estarão a comprar, pois querem ter todos os discos que saíram deste cantor. É o Marketing americano a funcionar, mais nada. Quem quer comparar a morte de Luciano Pavarotti com a de Michael Jackson? Foi alguma loucura destas? E há alguma comparação entre a voz de um e de outro?
Mas Pavarotti foi apenas um exemplo. Poderia dar mais, mas não o vou fazer. E podem dizer, para contra argumentar comigo, que Pavarotti era apenas um cantor e Michael Jackson era mais do que isso. Pois, era um cantor mas era-o de excepção e Jackson não. E, em termos musicais, não tenho dúvida nenhuma em afirmar que o mundo perdeu mais com a morte de Carlos Paião do que com a de Michael Jackson. Só que um era português e o outro era americano e, ainda por cima, dos escolhidos pelo pessoal das grandes editoras norte americanas, entre milhares de cantores do mesmo nível, para ser elevado ao estatuto de estrela máxima. E o pessoal vai nisso. Bem diz o ditado: “todo o burro come palha, o que é preciso é saber dar-lha”. E eles sabem dar palha. O que é preciso é ser-se burro para a comer…