segunda-feira, 6 de julho de 2009

Os cornos do "Manuelinho".

Em 1637, em Évora, rebentou uma revolta por causa do aumento dos impostos e contra a dinastia filipina que então reinava em Portugal. Segundo rezam as crónicas, os responsáveis pela revolta terão sido o Procurador e o Escrivão do Povo, no entanto, as ordens para o movimento, a fim de manter o anonimato dos impulsionadores, apareceram assinadas pelo “Manuelinho”, um pobre tolo da capital alentejana.
Mais de 360 anos depois, eis que o “Manuelinho” voltou, mas desta vez para o governo. Desculpem-me, mas eu não consigo de deixar de me lembrar, de cada vez que o via, do “Manuelinho”. Já não quero falar na cara dele – que é a do “Manuelinho”, de certeza – mas das coisas a que nos habituámos a ouvir do sujeito. Desde apregoar na China para investir em Portugal, pois nós tínhamos mão-de-obra barata; até decretar o fim da crise (vê-se!); passando por receitar a ingestão de “papa Maizena” (passe a publicidade – e confesso que não pensei que Maizena era papa, julgava que era uma farinha com fins culinários diferentes da simples ingestão com leite ou água [ou vinho, como teria sido o caso antes de proferir estas declarações], mas confesso que essa não é a minha especialidade, ficaria mais esclarecido se tivesse falado em Nestum ou Cerelac – mais uma vez, passo a publicidade) a Paulo Rangel, até ao culminar, com os cornos que mostrou (estava a mostrá-los, ou a insinuar que Bernardino é que os tinha?) a Bernardino.
Sinceramente, pareceu-me excessiva a demissão do “Manuelinho” pelo simples facto de ter feito o gesto que fez. Como é óbvio, esta demissão apenas aconteceu porque estamos a 3 meses das eleições e porque o PS levou a “tareia” que levou nas europeias, senão isto tinha passado incólume como passaram as suas anteriores “calhoadas”, as baboseiras de Mário “Jamé” (o do deserto) ou a má educação e arrogância constante de ministros como Silva Pereira (nomeadamente numa entrevista com Mário Crespo) ou Santos Silva (o que gosta de malhar na direita, lembram-se?) ou a suprema falta de respeito de Sócrates de cada vez que vai à Assembleia da República, na maneira jocosa com que trata os lideres das bancadas parlamentares da oposição.
“Manuelinho” foi, portanto, vítima do timing em que fez mais uma das suas, senão nada se teria passado. No entanto, mesmo no momento da saída a coisa foi, mais uma vez, atabalhoada, com o Ministro a dizer que tinha condições para continuar e, mais tarde, a dizer-se que tinha pedido a demissão já depois de ter sido despedido. E apareceram ainda vozes a louvar o trabalho do ex-ministro, dizendo que ele tinha operado maravilhas (como a Besta, no livro do Apocalipse) e que apenas não tinha o dom da palavra e que não era um político, dizendo que se fartara de trabalhar, que tinha um currículo invejável… tenham dó. Só pode louvar o trabalho deste ex-ministro quem beneficiou com as suas acções (e serão poucos), quem é da cor dele ou quem não tem vivido neste país! (aliás, por tocar neste assunto, deixai-me também felicitar Afonso Candal pelo seu discurso na AR no dia do debate de estado da Nação: gostei muito do país que falou, deve ser um sítio espectacular para viver; se ele ler estas linhas, espero que escreva nos comentários deste blogue qual é esse país, pois estou mesmo a ponderar a hipótese de emigrar para lá!). Quanto ao currículo, quem não conhecer esta malta, que os compre. Enquanto estudante, tive oportunidade de conhecer professores mentecaptos com currículos invejáveis; enquanto cidadão, tenho oportunidade de ver que esta malta começa, desde recém licenciados (às vezes antes), como chefes de algo e vão circulando de empresa em empresa, de instituto público em instituto público, sempre em lugares de chefia, sem terem passado por baixo, sem saberem o que estão a chefiar, sem saberem nada de nada, mas sempre a acrescentar ao currículo que foram chefes disto, chefes daquilo… Que competência, a destes senhores! Acrescentem à lista de sumidades com currículos invejáveis Dias Loureiro (o tal que tinha ordenado principesco no BPN por ser de uma competência rara mas que agora, quando a coisa dá para o torto, já vem dizer que afinal o que fazia era assinar papeis sem os ler – devolva os ordenados que recebeu se afinal não fazia nada nem sabia nada do que ali andava a fazer), Oliveira e Costa e Jardim Gonçalves, tudo malta de grandes currículos (e gente séria…).
Desculpem lá, mas um indivíduo que durante 4 anos mais não fez do que fazer ao povo, sub-repticiamente, o que fez naquele dia ao deputado Bernardino Soares às claras, já devia ter sido corrido há muito tempo e não só agora porque o fez à descarada a um deputado. Faz-nos pensar se um deputado (ainda por cima comunista) vale mais do que dez milhões de pessoas.
Ah! Mas não se preocupem com o “Manuelinho”, pois ele não vai para pior pelo facto de ter sido despedido. Tenho a certeza absoluta que vai receber uma belíssima indemnização e lhe vão arranjar um tacho ainda melhor, com menor exposição pública (para não voltar a fazer ou a dizer, em público, asneiras) e a ganhar muito mais dinheiro do que ganhava como ministro, seja numa empresa pública, seja num instituto público, seja numa Fundação privada tipo Fundação das Telecomunicações (que funciona em instalações do Estado, com pessoas nomeadas pelo Estado e que eu não acredito que tenha sido criada apenas para adjudicar o fornecimento de computadores Magalhães a uma empresa privada – será que é de amigos, ou é só porque é muito boa empresa? – sem concurso público), seja numa das empresas que beneficiou enquanto foi ministro. E saber que o “Manuelinho” fica bem, é um analgésico para as minhas dores!

3 comentários:

Nuno Bento disse...

Boas,
a analise dos chefes esta muito pertinente. No entanto, não estou de acordo com os comentários contra o Santos Silva. Afinal, trata-se de um Ministro do Parlamento que cumpre bem o rolo de desenrascar o Sócrates no Hemiciclo quando este mete água. Não compartilho completamente as criticas ao Manuel Pinho.
Tens razão quando falas do "buraco" Magalhães. O projecto tem as suas virtudes, mas é muito pouco para quem prometeu um choque tecnológico.
O Manuel Pinho teve algum trabalho, apesar do que se diz. Pese embora as gafes, reconheço-lhe algum esforço na promoção da imagem do pais la fora; a intervenção difícil em dossiês complicados (Opel Azambuja, Quimonda, Autoeuropa, Minas de Aljustrel), e com uma razoável eficácia.
Quem eu tenho pena de não ir embora são as figurinhas seguintes: Ministro da Agricultura, Jaime Silva (consensualmente o pior ministro do mundo - como diria o Marcelo); Min Obras Publicas, Mário Lino (gestor de lobbies publicos da construção); Ministro da Justiça, Alberto Costa (incapaz de reverter o caos em que a justiça se tornou); Min AdmInterna, Rui Pereira (as forças de segurança nunca estiveram tão desorganizadas e a cair no descrédito). Se calhar ainda haveriam mais, mas estes ministros ja não deveriam estar no governo ha muito tempo e a única explicação que encontro é a influência dessas pessoas no aparelho do PS (clientelismo), e os lobbys que os sustêm. Por exemplo, como é que um pais quer ser levado a serio se o chefe das forças de segurança e da secreta, o Ministro RP, é ao mesmo tempo um dos chefes da loja maçónica de Lisboa. Ainda por cima, este senhor esteve metido nas confusões das escutas da pedofilia da Casa Pia. Talvez não seja o pior caso, se nos lembrarmos que o Primeiro Ministro é o "FreeSocrates"..
Voltando ao Pinho, trata-se de um bom professor de economia da Católica e do ISEG. Chegou ao governo por mérito próprio e não pela via "dos chefes" como tu tão bem demonstraste. Acredito que o "reversing door" seja menos provável neste caso que no caso do Pina Moura (primeiro desregulou o mercado eléctrico e depois assumiu o comando do principal concorrente da EDP, a espanhola Iberdrola).
Ao mesmo tempo, não tenho muita confiança nos actuais quadros do PSD, infelizmente que tenho de o admitir. Tirando a Manuela, quem é o gajo sério que la esta?
Abraço,
Nuno.

Anónimo disse...

Apesar,deste tema transpirar politica mediocre ou não!?Esse "fabuloso"/"trágico"gesto,só mostra o nível cada vez mais grandioso dos nossos governantes,e o que podemos esperar do resto dos cidadãos!Como disse alguém celebre,o povo é governado por quem merece...(mais ou menos assim,eu e os ditados populares,nunca fomos amigos!)Isto será uma pescadinha de rabo na boca!!!!Realmente um povo deveras peculiar...ou talvés miserável,sem rei nem roque!!!um pais a saque!!!Um beijo,Sónia!

alfabeta disse...

Uma vergonha, estamos entregues à bicharada,neste caso a touros.