terça-feira, 14 de outubro de 2008

Confusão de Leis

Há uma coisa neste país (provavelmente também nos outros, mas é aqui que vivo, é daqui que falo) que me faz um bocado de confusão, e que tem a ver com as leis e com a Constituição da República.
Estava eu no outro dia a ver um debate entre vários deputados que andavam a discutir se a Constituição permitia casamentos de homossexuais (eu não sou muito velho, mas ainda sou do tempo em que essa malta tinha outro nome que tinha a ver com fabricantes de panelas), se a proibia, ou se os "obrigava".
No decorrer do debate, uns deputados diziam uma coisa, outros diziam outra e outros diziam outra; entretanto, citavam-se conceituados constitucionalista que tinham opiniões diferentes uns dos outros. O que me acorreu à ideia é que os deputados não sabem o que votam! Afinal, parece-me que temos ali umas centenas de estúpidos que aprovam uma Constituição e depois ficam à espera que outros que não a aprovaram venham dizer o que é que aquilo que eles votaram quer dizer. Cheira-me a coisa do género: "Pá, nós aprovámos aqui uma coisa qualquer que não é muito clara nem faz muito sentido, agora expliquem-nos lá o que é que isto que aprovámos quer dizer...". Não me parece que as leis nem a Constituição devam dar aso a interpretações diferentes; as coisas ou são carne ou são peixe, não são "carneixe". Não se pode viver num estado de direito em que não sabemos o que é que as leis querem dizer, pois assim temos dificuldade em cumpri-las. Mas como podemos nós compreender as leis se nem os próprios que as fazem e aprovam as compreendem?!
Depois há aquilo que eu acho que justifica a cada vez menor claridade das leis: os fazedores de pareceres! É que muitos que fazem as leis (ou que influenciam quem as faz) são os que depois ganham milhões e milhões de euros a fazerem pareceres pagos a peso de ouro para emitirem a opinião de quem lhes paga! Se uma grande empresa necessita de não cumprir a lei, paga milhões de euros aos Marcelos Rebelos de Sousa, aos Canotilhos, aos Jorges Mirandas, aos Vitais Moreiras e a tantos outros, para que lhes façam pareceres a dizer que determinada lei quer dizer aquilo que lhes dá jeito; e eles fazem (haja dinheiro, e eles pensam o que quiserem que eles pensem!). E o desgraçado do português pequeno, que não tem dinheiro para pagar pareceres, leva com a interpretação do juiz! E se, por acaso, recorre da decisão, até pode encontrar outro juiz que, perante os mesmos factos já decide de maneira diferente!! Até podiamos passar logo à última instância, pois assim podiamos poupar anos de audiências em tribunal. Mas aí também se compreende o que se passa: o zé povinho leva com um juiz "menor" e, como não tem "cheta", pode ser que fique por aí e não chateie os juízes "maiores"; para esses, os pequenos, como se costuma dizer "bacalhau basta". Para os grandes, esses têm que levar com os juizes que julgam a esmagadora maioria dos portugueses (que chatice!), mas é só para chegar aos que já percebem alguma coisa da matéria! E digo que percebem alguma coisa da matéria não por achar que isso é ou não verdade, mas porque desses não se pode recorrer e dos de baixo pode-se. Portanto, se não se pode recorrer desses e pode dos outros é porque estes têm um conhecimento e um entendimentos que não são discutíveis, enquanto que os dos tribunais "inferiores" são.

3 comentários:

Carlos Branquinho disse...

Ora é por estas e por outras que podemos verificar a modernidade a que a nossa sociedade chegou:
1.º - Isso de leis de fácil compreensão não deve existir numa sociedade moderna. A Lei deve ser um ser vivo dotado de espírito próprio, para poder um dia mais tarde, quando for revogada, aceder ao Paraíso.
2.º - O nosso estado de desenvolvimento permite-nos hoje, dar de barato a famosa "crise internacional" para discutir assuntos verdadeiramente importantes para o desenvolvimento económico e social (tais como o casamento homossexual ou há uns meses atrás o aborto e, num futuro próximo, a eutanásia).

Anónimo disse...

Dizem que a lei do casamento dos homossexuais dava jeito ao Sócrates...
Um abraço, Nuno.

Anónimo disse...

Pelos vistos, caro Nuno, tem razão naquilo que diz em virtude das ultimas declarações sobre essa materia de casamentos esquisitos que esse senhor Sócrates tem vindo a afirmar como sendo uma das prioridades para o governo se ganhar de novo as eleições.
Será que o homem resoveu voltar a casar e até agora não tem podido???......