sábado, 8 de novembro de 2008

Nacionalização do BPN.

Nacionalizaram o BPN. Proferir esta palavra, até há uns meses atrás, seria quase um sacrilégio. Pareceria que estávamos a voltar ao tempo do PREC (Processo Revolucionário Em Curso), dos negros e longínquos anos de 1975. Como sabem, não sou comunista – bem pelo contrário – mas neste aspecto (como em muitos outros, não me choca dizê-lo) partilho a mesma opinião do PCP: ao mesmo tempo que se nacionalizam os prejuízos do BPN, continuam-se a privatizar os lucros da GALP, da REN e de outras empresas fulcrais para a economia nacional, que passam a estar na mão de empresas, muitas vezes estrangeiras, que nada se interessam com os interesses de Portugal; ou seja, empresas importantes para o desenvolvimento e para o bem estar de Portugal e dos portugueses, que deveriam estar nas mãos do Estado para que este pudesse geri-las de forma a fomentar a economia nacional, passam para as mãos dos privados a servir apenas e exclusivamente os lucros de alguns. Mas quanto a este assunto puramente doutrinário, terei oportunidade de escrever um dia, onde mostrarei que a direita, a verdadeira direita, não é liberal, não defende a selva do capitalismo selvagem, nem acredita que o mercado – ”a mão invisível” – leva ao equilíbrio, ou leva à melhoria de todos mas antes a alguns meterem a “mão invisível” no bolo todo e a deixar a esmagadora maioria ficar com as migalhas do festim que, entre outras consequências nefastas, levam ao esgotamento do planeta e ao aquecimento global. Percebem, portanto que não sou favorável à privatização de empresas como a GALP, a EDP (partida aos bocados em EDP, EDP Renováveis, REN, etc., para dar mais dinheiro vendida às postas), águas, comboios, CTT, PT, hospitais e outras.
Mas estou aqui hoje para dar a minha opinião acerca da nacionalização do BPN. E a minha opinião é que não deveria ter sido nacionalizado só o banco. O BPN faz parte de um grupo que tem, ou não, capacidade de salvar o banco; por isso, das duas, uma: ou o grupo salva o banco, ou não salva; se salva, não é necessário nacionalizar; se não tem capacidade, ao Estado compete nacionalizar o grupo todo, não só a parte do grupo que dá prejuízo.
Já agora, só mais duas notas.
Uma, acerca da actuação do Banco de Portugal, que paga principescamente ao seu governador (circula na internet um mail que fala que Vítor Constâncio ganha cerca de duas vezes o que ganhava o antigo presidente da FED, banco central dos EUA) e aos outros funcionários (que me lembro ser-lhes exigido nota mínima de licenciatura de 14 valores) e que tem sido desastrosa: desde o caso BCP até ao caso BPN tem mostrado que não controla nada e que não faz nada, ou seja, não serve para nada – faz várias previsões de alguns indicadores macroeconómicos do país e em que, apesar de ir mudando de opinião a cada 3 meses, nunca consegue acertar (Ah! Também vem dizer que os salários dos outros não podem aumentar!) – pois já nem sequer é responsável pela política monetária e financeira de Portugal desde que aderimos ao euro.
Outra nota, e para descontrair um bocado (a ignorância dos jornalistas, quando não é para chorar, dá para nos rirmos um bocado), tem a ver com uma notícia que ouvi há pouco na televisão, e em que se falava acerca de o Liedson também passar a poder jogar pela selecção assim que fosse “nacionalizado”. Como já referi atrás, acho que alavancas importantes para a economia nacional deviam estar nas mãos do Estado, mas não me parece que devamos “nacionalizar” o Liedson, pois acho que os bens dele, por muito que me dessem jeito a mim, não são factores de desenvolvimento do país. Eu ainda sou do tempo em que não havia cursos de jornalismo e os jornalistas não diziam tantas asneiras. Agora tiram cursos superiores para serem jornalistas e as bacoradas são cada vez mais arrepiantes: não saber distinguir “naturalizar” de “nacionalizar” é inadmissível, ainda mais por parte de uma classe que faz notícias e reportagens a crucificar as outras profissões pelos erros (humanos) que vão dando.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quim,
tens razão quando dizes que os economistas que aconselharam a tomar o caminho que levou à crise deveriam ser responsabilizados.
"Privatizar lucros e nacionalizar prejuizos" - sabes quem foi o primeiro a dizê-lo?
John Maynard Keynes!
Abraço,
Nuno

Batinas disse...

O Keynes, na minha opinião, esteve muito bem durante a grande depressão e manteve-se mais ou menos actual enquanto viviamos em economias mais ou menos fechadas ou muito protegidas. Nos tempos de globalização e de liberalização mundial do comércio, as suas teorias ficam um bocado ultrapassadas...