quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O pricípio do fim.


Portugal está a chegar ao limite. Mais de trinta anos após o golpe militar de Abril de 1974 estamos a chegar a um ponto de rotura. Portugal está endividado até às orelhas e um dia destes ninguém nos vai emprestar mais dinheiro e aí será o fim do mito de que os portugueses estão a viver melhor do que antes de 1974. Porque, tal como eu escrevi na fábula “O Zé”, temos vivido na ilusão de que vivemos melhor, mas isso tem sido devido ao “estoirar” do ouro que o considerado melhor português de sempre – António de Oliveira Salazar – nos deixou, aos fundos comunitários e ao monstruoso endividamento externo. Mas tudo isso está perto do fim e o ouro que sobrou já não dá para nada quando comparado com o que devemos (à data do 25 de Abril de 1974 o ouro dava para pagar a dívida externa e ainda sobrava). Ou seja, a história que nos tem sido contada há mais de 30 anos por quem nos rouba, está a acabar. E acabará o saque. E acabarão os rendimentos mínimos e os subsídios de desemprego e, no limite, os pagamentos a quem trabalha, ou seja, aos funcionários públicos. Porque no dia – que já esteve mais longe – em que nos fecharem a torneira dos empréstimos e ficarmos só a pagar o que devemos, o dinheiro não vai dar para quase nada e chegaremos à triste conclusão de que estamos piores que em 1974, o país não cria riqueza, não se desenvolveu, o ouro foi-se e estamos mais miseráveis que nunca.
E tudo isto porquê? Porque ao longo destes anos estivemos sujeitos a um saque constante e impune que a classe política tem feito ao erário público, roubando quanto pode; porque a classe política incentivou a “chulice” e a indigência de muitos portugueses que se recusam a trabalhar porque recebem rendimentos mínimos ou subsídios de desemprego em troca de votos; porque os governantes desbaratam dinheiro estupidamente, sem qualquer sentido, sinal de que não sabem nem se interessam em governar Portugal; porque esta malta que nos governa não tem qualquer problema, sequer de consciência, em desbaratar dinheiro em obras que nunca conclui (basta ver, de vez em quando, o programa da SIC, “Nós por cá”, para ver a quantidade de obras de milhões que ficam inacabadas ou até são para demolir sem nunca terem sido usadas), ou obras que custam milhares de euros em manutenção sem qualquer utilidade (ainda hoje ouvi que a Câmara de Leiria quer vender o estádio, pois aquilo custa, em manutenção e juros, 5000 euros por mês e há ainda o caso de estádio de Aveiro, que já o querem demolir, pois também não há dinheiro para manter aquilo), ou em derrapagens brutais no custo das obras públicas em Portugal.
Isto está podre: a justiça não funciona, a educação está de rastos, não há segurança, a ética e a moral deixaram de existir, as maternidades e centros de saúde estão a fechar, a economia está em ruínas, o endividamento externo está nos píncaros e a democracia não tem resolvido nada, antes pelo contrário, serve para legitimar a presença no governo de quem só lá quer estar para se encher e roubar quanto pode.
Estamos a chegar à conclusão que 35 anos de “Abril” puseram o país em ruínas, que a maior parte das pessoas já nem vai votar e em que a maior parte vota em quem nos rouba dizendo que “ele rouba mas faz” ou respondendo “não sei” quando se pergunta a algumas pessoas porque votaram neste ou naquele (conheço casos destes, mesmo por parte de pessoas com formação superior – que será da maior parte das pessoas, que, como sabemos, são ignorantes e analfabetas). Quando as coisas chegam a este ponto, é caso para perguntar: para que serve, afinal, a democracia? Para escolher quem nos vai roubar? Para legitimar ladrões? Meus amigos, eu, no meio das minhas dores de morte, prefiro não poder votar mas ter quem me governe, do que votar para escolher quem me vai roubar!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

As aldrabices da Demografia.

Segundo as estatísticas, Portugal conta com 517 mil desempregados. Claro que as estatísticas valem o que valem e o número é substancialmente superior. E isto sem contar com empregados em “part time” e com os que trabalharam umas horitas nos últimos meses e com os trabalhadores precários e com os que já nem se dão ao trabalho de se inscrever nos centros de emprego, pois aquilo só serve para as estatísticas ou para atribuir subsídios de desemprego, pois eles não avisam as pessoas no caso de surgir empregos. E sei do que falo, pois já lá tive a minha mulher inscrita e abriu um concurso público na área de formação dela e ela não foi avisada, bem como, após ter arranjado um trabalho temporário, e apesar de se ter inscrito várias vezes após ter ficado sem esse trabalho, de cada vez que ia ao centro de emprego diziam-lhe que ela estava a trabalhar! Passou-se isso quando se inscreveu sucessivamente em Leiria, Coimbra, Viseu e Guarda: apesar de se ir inscrevendo sucessivamente, de cada vez que se ia inscrever diziam-lhe que ela estava a trabalhar em Leiria! Assim se dão taxas de desemprego falsas (como toda a estatística em Portugal, aliás).
Ora, mas eu não estou aqui hoje para discutir as fraudes das estatísticas em Portugal, estou aqui para discutir o desemprego, a imigração, a natalidade, o número de licenciados e as reformas. Tudo coisas interligadas entre si.
Interligadas porque é extraordinário que num país onde se atinge oficialmente uma taxa de desemprego de 2 algarismos, se continue a dizer que a taxa de natalidade é baixa, que os portugueses têm que ter mais filhos para garantir a sua reforma, que temos que importar imigrantes… Tudo balelas! Pois se temos mais de meio milhão de desempregados (oficiais) mais umas centenas de milhares de beneficiários do rendimento mínimo, ou seja, se temos perto de um milhão de pessoas neste país que não têm trabalho, acham que ainda necessitamos de mais gente? Se não há empregos para esta gente toda (mais os que já emigraram), para que querem mais desempregados? A verdade é que esta forma de capitalismo necessita de cada vez menos gente e cada vez lhes paga pior, de forma a criar grandes lucros para alguns, descartando os outros que apenas servem para fazer baixar os salários, por via do excesso de oferta de mão-de-obra. Mas um capitalismo que não necessita das pessoas, tem os dias contados. Quanto às reformas, não são os cada vez mais desempregados que vão pagar as reformas dos que trabalham e descontam. Não é por se ter mais filhos que serão desempregados, que as reformas se vão conseguir pagar, antes pelo contrário, pois estes apenas vão também absorver mais fundos da segurança social, por via das prestações sociais que estes desempregados e indigentes do rendimento mínimo recebem. O problema da segurança social é que o dinheiro dos descontos de quem trabalha é desbaratado com os preguiçosos do rendimento mínimo e das habitações sociais (e o saque dos “grandes”) em vez de ser aplicado até à reforma dos que descontaram. Ou seja, o Estado, ou melhor, estes políticos, criaram na segurança social um esquema piramidal tipo D. Branca em que estarão sempre dependentes que os que entram no mercado de trabalho sejam mais do que os que saem! Só que as contas saíram-lhes furadas, a demografia alterou-se e o esquema faliu… E agora querem muitos filhos e imigrantes, mas já não há empregos para os que cá estão, quanto mais para os que hão-de nascer (caso se voltasse ao crescimento natural da população portuguesa) e para os que querem mandar vir de fora para povoar Portugal (como se o que interessasse é cá ter gente, nem que se tenha que pôr os portugueses fora de Portugal, para que eles se sintam melhor cá e para a nossa cultura não perturbar a deles).
Balela é também a história de querer dar certificados a toda a gente. Como repararam, não escrevi educação, formação, escrevi certificados pois cada vez se certifica mais o que não existe, como é o caso do 12º ano e do ensino superior. Este é o Estado que incentiva os seus a estudarem (bem, estudarem cada vez menos, mas, pelo menos, a andar no sistema de ensino mais tempo), a tirarem licenciaturas (agora mestrados), o Estado que diz que temos poucos licenciados mas que no fim os licenciados não têm empregos. É mais um logro desta república das bananas, que faz pessoas andarem anos e anos a estudar, que faz os pais gastarem rios de dinheiro em quartos, propinas, etc., para depois não ter empregos para licenciados e pô-los nas caixas de supermercado ou ao balcão de uma qualquer Zara ou loja de telemóveis… Este é o Estado que não vendo ou não querendo ver que há licenciados a mais e que há indivíduos que não têm capacidades intelectuais para prosseguir para níveis de ensino superiores, incentiva os jovens a iludirem-se de que podem ser doutores ou engenheiros, ficando o país desprovido de serralheiros, electricistas, pedreiros, carpinteiros, que era para o que uma boa parte dessa malta que pulula no ensino superior servia.
Este é o Estado que reduz as reformas de quem descontou décadas para ter uma reforma, e altera as regras do jogo, para lhes pagar menos e menos, ao mesmo tempo que dá rendimentos mínimos a quem não quer trabalhar ou se preocupa tanto em pôr a mão por baixo a pessoas que trabalharam (ou não) décadas e décadas e nunca quiseram descontar para a reforma um cêntimo. E que ainda têm o desplante de se queixarem das pensões baixas, em vez de agradecerem a esmola que todas as pessoas que trabalham e descontam e pagam impostos, tão generosamente lhes dão daquilo que devia ser seu!
Isto, meus amigos, isto é que me causa dores de morte!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

País a saque.

Armando Vara diz que está inocente. José Penedos também. Paulo Penedos também. Bibi também dizia. Hugo Marçal também. Jorge Ritto também. Carlos Cruz e Paulo Pedroso idem. E Sócrates (que está em todas), claro, também está inocente. Aliás, tal como Dias Loureiro, Oliveira e Costa, Ferreira Dinis, Valentim Loureiro e o filho, Fátima Felgueiras, Isaltino Morais, Vale e Azevedo, Zezé Beleza e a irmã, ou Costa Freire. Podia continuar por aqui fora a citar nomes e casos que em comum têm o facto de mostrarem o quanto esta democracia e este chamado (erradamente) “Estado de direito” está podre e decadente. São tudo casos que mostram a impunidade que os “grandes” têm neste país, e que este bloco central de interesses tem feito tudo o que lhe apetece, tomando conta de todos os lugares do Estado, das grandes e médias empresas, de institutos públicos, de empresas municipais, de direcções gerais, enfim, de tudo o que cheire a dinheiro neste país. E pior: isso não lhes chega. Além dos balúrdios que ganham ainda têm necessidade de arranjar maneiras fraudulentas para ganhar mais e mais dinheiro! Estamos a chegar ao ponto em que de cada vez que damos um pontapé numa pedra, encontramos trafulhice. Como já disse, eles perderam a vergonha, pois a justiça foi montada (por eles) para não funcionar, e desde que continuemos (e vê-se que continuamos) a votar neles, é o que lhes interessa. Fazem as falcatruas que lhes apetece e desatam a anular provas que os incriminam inequivocamente, arranjam mil e um expedientes para atrasar os processos a ver se prescrevem, dizendo no fim que provaram a sua inocência, quando nada mais fizeram do que anular as provas que mostravam o contrário. Fizeram umas leis confusas que ninguém entende, a ponto de andarem tribunais e procuradores a opinarem de maneira diferente sobre o mesmo assunto, com professores universitários a opinarem também cada um à sua maneira, acabando as coisas por irem até aos tribunais superiores que têm juízes nomeados uns pelo PSD outros pelo PS, que acabam sempre por, servilmente, lhes dar razão. É uma vergonha!
Por muito que pareça que estão muito preocupados com a justiça, com o Estado de direito, com os julgamentos públicos, com a quebra do segredo de justiça, a verdade é que apenas queriam que toda esta “maçada” que os juízes lhes andam a causar passasse despercebida a fim de não serem julgados pelos únicos juízes justos deste país, o povo, que sabe bem que nenhum deles vai ser condenado ou, se o for, não “vai dentro”, pois foge ou é indultado, mas que sabe bem que eles são culpados de tudo o que se fala e que são ainda culpados de muitos outros crimes de que nem chegam a ser acusados, pois nunca se chegam a saber. Mas o povo sabe que o que vem à praça pública é apenas a ponta do icebergue de roubalheira que estes ladrões andam a fazer ao nosso país, acusando depois os funcionários públicos de serem a causa do défice, quando a causa do défice é o saque que estes biltres têm feito ao Estado.
A única coisa que me alivia as dores de morte que me invadem o corpo todo de cada vez que ouço falar desta roubalheira é o pensar que começam a aparecer indícios de que o país está tão podre que está em vias de haver uma crise neste regime criado após o golpe de estado de 1974 e que o regime está prestes a cair de podre. Espero que quando isso acontecer, toda esta escumalha seja julgada em julgamentos justos (onde as provas contem mesmo e não sejam sempre anuladas por advogados hábeis) e condenada severamente com pesadas penas de prisão e, também, com a devolução de tudo o que nos tem sido roubado, estejam essas coisas onde estiverem e estejam elas em nome de quem estiverem.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A educação - A escola inclusiva.

Como já algumas vezes aqui escrevi, o que se está a fazer neste país em relação à educação é um crime. E diria que é um dos maiores crimes que o governo está a cometer contra o futuro de Portugal e contra a actual juventude. O governo está a condenar os nossos jovens à ignorância e, consequentemente, à pobreza.
A teoria da escola inclusiva, em que não se faz a distinção entre os bons e os maus alunos, em que todos vão passando sem saber nada, em que se obriga quem não quer estudar a frequentar e desestabilizar as aulas (impedindo quem quer aprender de o fazer, sem que os professores possam fazer nada contra isso), em que se retira autoridade aos professores e se obriga estes a perderem mais tempo com burocracias inúteis do que a dar e a preparar aulas, vai levar, acima de tudo, à escola exclusiva. E digo isto porque se está a deteriorar a qualidade do ensino público, a conceder graus à ignorância e à incompetência, enfim, está-se a condenar as gerações futuras. E porque se está a fazer com que os filhos dos pais ricos, vendo para onde isto está a ir, ponham os filhos em escolas privadas de qualidade, onde o ensino é rigoroso, onde há disciplina e onde se aprende alguma coisa, e a fazer com que os filhos dos pobres ou dos remediados (que são cada vez mais), que não têm dinheiro para isso, fiquem em escolas onde a bandalheira e a má qualidade do ensino (sem que esta seja culpa dos professores) é cada vez maior e a condenar estes à pobreza no futuro. Está-se, no fundo, e contra o que pretendem (ou dizem que pretendem) a ministra da educação e os seus secretários de Estado (que duvido que tenham os filhos na escola pública), a provocar a exclusão, a exclusão de conhecimentos e de mobilidade social.
Porque no meu tempo, a escola pública ainda tinha alguma qualidade, toda a gente estudava até onde queria ou podia e, filhos de ricos ou de pobres, tinham as mesmas oportunidades de aprender. É isto que se está hoje a negar à maior parte dos nossos jovens, que não têm dinheiro para escolas privadas: a oportunidade de aprender. E porque esta concessão de graus sem os respectivos conhecimentos vai levar a que, no futuro, os melhores empregos sejam dados aos filhos dos que tinham dinheiro para os pôr a estudar num colégio decente e onde aprenderam alguma coisa. Porque o facilitismo leva à ignorância e ninguém quer ter um ignorante a trabalhar na sua empresa, a menos que seja como trabalhador não qualificado e com baixo salário. E trabalhadores não qualificados e ignorantes é o que o ensino público está a criar neste momento. Não deixa de ser curioso que seja um governo dito socialista que está a condenar os filhos dos pobres à pobreza e a dar uma mãozinha a que surjam escolas privadas de qualidade para os filhos dos ricos! Não deixa de ser curioso que seja um governo dito socialista que está a transformar aquilo que eram antes a meia dúzia de colégios privados que existiam para os filhos dos ricos, quando não tinham capacidade para concluir o liceu, irem conseguir fazê-lo (e com boas notas), num negócio muito mais chorudo onde hoje terão que ir os filhos dos ricos que tenham capacidade de aprender e não queiram ficar pela mediocridade de conhecimentos que hoje, e cada vez mais, são administrados nas escolas públicas.
E a verdade está aí: os professores universitários queixam-se que cada vez os jovens chegam mais mal preparados às universidades e sem saber escrever ou pensar. E isto só pode levar a uma de duas coisas: ou eles chumbam a eito, ou os professores se conformam e aceitam também o facilitismo. E facilitar leva a não ter os conhecimentos desejados. E não ter os conhecimentos desejados leva à maior dificuldade em arranjar emprego qualificado, pois as empresas (pelo menos as que aspirem a sobreviver neste mundo globalizado) não querem burros incompetentes a trabalhar para elas. Daí que eu preveja que, num futuro próximo, comecem a aparecer universidades privadas de qualidade onde os filhos dos ricos, que já fizeram no privado o ensino básico e secundário, façam também os cursos superiores. Ou seja, tal como no secundário, também as universidades privadas deixarão de ser para onde vão os filhos dos ricos que não tenham capacidade de tirar um curso, e passarão a ser para onde vão os filhos dos ricos que queiram tirar um curso em condições e que tenha boas saídas profissionais, para lugares qualificados, bem pagos, e onde não se aceite um qualquer ignorante semi analfabeto e portador de um papel que diz que é licenciado.
Outra maneira de arranjar qualificações em Portugal, é alistar-se de pequenino numa juventude partidária, colar cartazes até à idade adulta e já estão obtidas qualificações para trabalhar para o Estado, num qualquer gabinete de secretário de Estado, de deputado, de vereador (isto para quem tem mais qualificações) ou num qualquer outro emprego menos bem remunerado. Mérito? Sabedoria? Para quê? Isto ainda vai dando para a mediocridade florescer e expandir-se. Ainda há quem trabalhe para sustentar mais uns quantos “jobs” para os “boys”, que obtiveram as mais altas qualificações através do bajular os mais antigos nas juventudes partidárias.
Isto é um crime que se está a passar em Portugal e estes senhores que fazem isto deviam ser julgados, condenados e punidos pela destruição do futuro próximo de Portugal, pela condenação à pobreza e emigração das gerações futuras. Porque voltaremos a ser exportadores de pedreiros (com licenciatura) ou lavadores de retretes dos países mais ricos (isto se eles ainda necessitarem de nós, como aconteceu nas décadas de reconstrução da Europa, a seguir à II guerra mundial – agora não sei se precisam).
E enquanto isso não acontece, as minhas dores de morte não têm qualquer alívio. Nem com comprimidos.

sábado, 10 de outubro de 2009

As eleições legislativas de 27 de Setembro de 2009.


Como podem suspeitar pelo meu longo silêncio, tenho andado com muita preguiça para aqui vir escrever o que me vai na alma acerca do que se vai passando em Portugal e no mundo. Mas, apesar de isso ser verdade, também não é menos verdade que poucos têm sido os assuntos que me têm feito ter vontade de escrever. Por isso, e correndo o risco de vir com um assunto que já é do passado, venho aqui escrever qualquer coisa acerca das eleições legislativas. Ora, acerca do longo bocejo que foi a campanha eleitoral das legislativas, consegui reter meia dúzia de ideias.
A primeira delas, foi o nosso primeiro-ministro no seu melhor: mais mentiroso do que nunca, voltou a prometer este mundo e o outro com a mesma cara sem vergonha de sempre, como se não tivesse lá estado estes anos e pouco mais tivesse feito do que aumentar impostos a quem trabalha, dar dinheiro a quem não quer trabalhar, proteger os criminosos e os imigrantes, destruir o serviço nacional de saúde, destruir o ensino público, fazer todos (excepto as clientelas dele) apertar o cinto, distribuir tachos, controlar a comunicação social e, no fim, deixar o défice e o desemprego pior do que os encontrou. Mas pronto, voltou a prometer, como diz o Jerónimo de Sousa, “como se quisesse pôr o conta-quilómetros a zero”. Atenção, esta falta de vergonha não foi nada surpreendente, foi Sócrates no seu normal!
No meio disto tudo, aparece a Manuela Ferreira Leite, com tanta matéria-prima para trabalhar e facturar, e perdeu a campanha toda em mexericos acerca das escutas, da asfixia democrática e ainda se embrenhou em contradições ridículas por causa do que se passa na Madeira, como se aquilo não fosse vergonhoso e as vitórias nas eleições não fossem, precisamente, devido à “asfixia democrática” e ao clientelismo e à obra feita à custa do dinheiro do continente e do endividamento, e essas sucessivas vitórias anulassem a maneira como são obtidas. Ou seja, tinha tanta coisa para falar, para atacar o primeiro-ministro (as que disse acima) e foi pelo caminho mais complicado e que menos interessa aos portugueses. O resultado final foi o que eu esperava.
Tivemos ainda um Francisco Louçã (que, como sabem, é uma personagem que eu detesto) em bom nível, a puxar casos vergonhosos para a campanha e a conseguir mostrar alguns dos podres desta nossa “democracia” e deste bloco central que nos tem desgovernado há mais de três décadas. Acho que esteve em bom nível, apesar de, no que toca às propostas, estou a anos luz dele e Deus me livre que fossem postas em prática, ou lá ia o desemprego para 50% e lá íamos ainda mais para o buraco em que o Sócrates nos meteu mais. O resultado foi decepcionante (não para mim, pois acho que devia ter ainda menos), comparado com o que se chegou a pensar devido às sondagens. Mas foi prejudicado no fim, por causa da velha e gasta história do voto útil a favor do PS.
Quanto à CDU, foi o costume: muita simpatia por parte do Jerónimo de Sousa, mas a mesma conversa gasta de sempre, talvez com o perder um pouco a vergonha de voltar a falar de nacionalizações, como se já todos tivéssemos esquecido ao que isso nos levou nos anos pós 25 de Abril. No meio de tudo, algumas bocas engraçadas ao Sócrates, mas nada de extraordinário, tal como os seus resultados, apesar do que apregoou.
O grande vencedor para mim foi, sem dúvida, Paulo Portas (que acabou por levar o meu voto, pois descobri, ao chegar à mesa de voto, que o PNR não tinha lista pelo distrito da Guarda!!). Apesar de tudo o que acho dele (desde o governo de que fez parte, até às histórias com Ribeiro e Castro ou Manuel Monteiro), não há dúvida nenhuma que foi um lutador, foi o homem que, dos 5 partidos do poder e que têm acesso à comunicação social, mais coisas acertadas disse e por isso teve um resultado extraordinário, com muita gente jovem das grandes urbes, surpreendentemente, a votar nele em vez das propostas da “ganza e do aborto” de Francisco Louçã. Parece-me um bom sinal de descontentamento da juventude contra as políticas de esquerda que têm vigorado em Portugal desde o dia do golpe militar de 1974. Parece-me que alguma juventude começou a abrir a pestana e a ver que a vida não são só charros e bandalheira e que as propostas da extrema esquerda, apesar de muito bonitas, são completamente utópicas e apenas levariam Portugal para a pobreza, como aliás o fizeram em todos os países onde estas se aplicaram.
Como nota muito importante desta campanha, ficaram os "insultos" que todos fizeram uns aos outros, desde o CDS ao BE, da CDU ao PS, do PS ao PSD, do PSD ao PS, do BE ao CDS. Foi com algum espanto que assisti a que, de repente, todos se andassem a chamar "Salazar" uns aos outros - ou "salazarento" (que é uma palavra que podia também ser criada a partir de Mário Soares: "soarento", uma palavra que definiria o acto de vender Portugal aos comunistas estrangeiros e meter a mão no que é de todos). Por um lado achei graça que um homem que morreu quase há 40 anos e que deixou dinheiro para esta gente roubar e enriquecer e para tantos outros políticos ainda hoje viverem à conta do que ele cá deixou, fosse tão utilizada na campanha eleitoral, prova de que a consciência desta corja de ladrões começa a ficar pesada e tentam, portanto, achincalhar o nome de alguém sério, competente e honesto (os fracos e mesquinhos costumam usar este tipo de estratagema, o de, para não parecerem tão reles, tentarem rebaixar os que lhes são, indiscutivelmente, superiores), mas por outro lado, perante o abuso da utilização do nome do Prof. Oliveira Salazar, a revolta apossou-se de mim e o nojo por esta malta subiu a níveis que eu não julgara possível. Como é possível que esta corja que há 35 anos anda a roubar o povo, que anda a levar o país para o colapso enquanto eles enriquecem e engordam à custa do trabalho de todos, como é possível que esta vara ouse utilizar sob a forma de insulto o nome de um homem que, quer a nível intelectual, quer a nível de competência, quer a nível de honestidade, quer a nível de princípios, lhes é de tal forma superior que eles nem aos calcanhares lhe chegam? Corja de bandalhos inqualificável, haviam de lavar a boca com sabão antes de pronunciar o nome deste homem, para não o conspurcarem!
Apesar de tudo, fiquei triste por a verdadeira direita continuar a ter votações ao nível do residual, sinal de que, apesar de algum abrir de olhos, as pessoas continuam presas àqueles 5 partidos, as pessoas continuam a não ser donas do seu próprio voto e a votar naqueles partidos que a comunicação social diz que têm hipóteses. A comunicação social continua a calar a voz dos pequenos partidos, a não lhes dar voz nos noticiários e, muitas vezes, a denegrir partidos como o PNR, acusando-os de tudo e mais alguma coisa em vez de se limitarem a apresentar as suas ideias sem juízos de valor, como o fazem, por exemplo, enquanto ouvem tolices como as da Carmelinda Pereira do POUS, que queria proibir os despedimentos (já agora, porque não proibir o crime também?). São estes ataques, esta censura e, por vezes (sistematicamente) a difamação – além do facto de aquela malta do poder, por influência da comunicação social, fazer crer às pessoas que os nossos votos só são válidos quando são neles, pois eles é que têm hipótese, como se no dia da votação, antes das urnas abrirem, eles já tivessem dentro da urna os votos quase todos: eles já são donos dos nossos votos! – que fazem com que as pessoas, apesar de, na realidade, pensarem bem à direita, irem votar no centro, na esquerda e na extrema-esquerda.
Antes de terminar, uma palavra acerca de sondagens que, sistematicamente, erram a favor dos partidos mais à esquerda (CDU, BE e PS) e em desfavor dos partidos mais ao centro (PSD e, sobretudo, CDS). Não querendo acreditar que a coisa é feita com má fé, sugiro que as amostras comecem a ser mais bem escolhidas e mais representativas da realidade nacional
Quanto à história das escutas e à comunicação ao país do presidente da república, nem quero comentar, por causa das dores…

sábado, 15 de agosto de 2009

Façam o favor de ser felizes!

Morreu Raúl Solnado, uma das figuras mais simpáticas do mundo do espectáculo em Portugal. Apesar de não ser dos meus comediantes favoritos, era uma pessoa que me habituei a simpatizar e a ouvir e a ver, se não com uma gargalhada, pelo menos com um sorriso de simpatia e de carinho. Quando eu era mais novo, era muito mais admirador de Raúl Solnado enquanto comediante, mas com o evoluír da idade essa admiração foi diminuindo, sem no entanto me esquecer e continuar a achar imensa piada às suas prestações em situações como a da guerra de não sei quantos ou na peça "Há petróleo no Beato". Pronto, isto para dizer que era uma pessoa de quem eu gostava mas sem exagero. E gostei de ver a quantidade de gente que foi ao seu funeral, sinal de que era uma pessoa amada pelo povo português. E apreciei esse acorrer do povo ao seu funeral, também por ver que, por vezes, os portugueses sabem ser mais civilizados que outros povos de países mais desenvolvidos que o nosso, ou seja, o povo soube mostrar a tristeza pela morte de Raúl Solnado e a sua admiração pelo actor sem histerismos ou sem os exageros que se veem lá fora, nomeadamente como no caso recente da morte do Michael Jackson: não houve gritaria, não houve histerismo, não houve tentativa de arrancar cabelos, não houve cerimónias fúnebres em campos de futebol ou de basquetebol, não houve tentativa de vender revistas ou arranjar audiências televisivas com bodes expiatórios supostamente culpados da sua morte nem com a invenção de filhos à última hora... Houve lágrimas (mas uma lágrimazita até eu soltei), houve palmas e houve respeito.
E, claro, também houve algum aproveitamento! O ministro dos negócios estrangeiros lá apareceu, e lá mandou a sua asneada! Disse que Raúl Solnado foi um lutador pela liberdade e pela democracia, quando isso é tudo mentira. Raúl Solnado foi uma pessoa que tanto viveu sem problemas durante o Estado Novo como após o golpe militar de 1974, precisamente porque o seu humor e o seu trabalho nada tinham de político. E se algum problema teve, até terá sido mais no pós 25 de Abril, em que optou por não alinhar com ideias destrutivas comunistas. E nessa altura, muitos dos actores e cantores e fadistas que foram chorar lágrimas de crocodilo ao seu funeral bem que o tentaram afastar, precisamente por não alinhar com os "metralhas" que mandaram neste país e por nunca se ter transformado em comunista. Sim, uma boa parte de gente conhecida são uns "metralhas" que prosperavam no Estado Novo e viraram comunistas após o 25 de Abril e só lá foram para aparecer e mostrar sentimentos que não têm, mas que fica bem mostrar, até para sua publicidade! E quanto ao ministro ou outros manipuladores da obra de Raúl Solnado, cabe-me dizer que, por exemplo (e foi isto que foi citado, para tentar enganar o povo), a história da guerra de mil novecentos e troca o passo nada tem de crítica à guerra do ultramar; é simplesmente uma história engraçada e que, se algo de político aquilo pode esconder (mas eu continuo a achar que não esconde) é precisamente o contrário, é o mostrar a guerra como algo de engraçado e até de amigável e inócuo! Ninguém sério intelectualmente (ou que não seja burro, claro, que também aí os há aos montes - e então entre jornalistas, políticos e pessoal do mundo do espectáculo e da televisão é um disparate!) pode ver ali uma crítica à guerra de África. Nada. Zero! E ninguém que ouça aquela história pode ficar com outra ideia que não seja a que a guerra até é engraçada.
Mas eu já estou habituado a estes disparates! Acho imensa piada quando ouço os actores que até viviam bem no tempo de Salazar, virem dizer que faziam e que aconteciam, que faziam textos muito bons antigamente que era para fazer críticas sem que os censores topassem! Mas o extraordinário era que toda a gente percebia as críticas, excepto os censores, que eram burros, se calhar! Mas alguém de juízo acredita nisso? Mas alguém acha que os censores não percebiam uma boquita ou outra que ali passava? As boquitas passavam porque eles deixavam, porque eram coisas que não faziam mal a ninguém. Mas não, eles acham-se muito inteligentes porque conseguiam enganar a censura! Tristes idiotas! Se a imbecilidade pagasse imposto...
Para finalizar, uma nota aos jornalistas: quando penso nesta classe lembro-me uma história que li, em que um indivíduo (o Dr. Assis, uma personagem inventada mas inspirada num professor da Universidade de Coimbra de finais do séc. XIX), para alertar um amigo que tinha ficado de o ir buscar a cavalo à estação de comboio, avisa por telegrama que afinal ia levar dois amigos com ele e que, portanto, seriam necessários três cavalos, e escreve o seguinte: "eu e mais dois amigos, três cavalgaduras"! A quantidade de vezes que eu ouvi dizer que Raúl Solnado era uma personagem "impar"! Mas saberão os Srs. jornalistas o significado da palavra "impar"? É que 3, 5, 7, 9, 11, 105, 123.452.654.213 são números impares! Essa malta é tão ignorante que não consegue distinguir entre impar e único! Tal como não conseguem distinguir "concurso" de "passatempo" (passam a vida com concursos em que nos habilitamos a ganhar prémios ou dinheiro e a chamar-lhes passatempos, como se estivessemos a fazer palavras cruzadas, jardinagem, ou a jogar xadrez). E ainda temos a última que ouvi (e com esta me fico, pois este assunto da burrice de jornalistas dava para fazer uma crónica comprida, comprida, comprida...) foi a de que, por lei, o pão só podia levar 1 e tal por cento de sal por Kg; isto é extraordinário, pois isto leva-me a pensar que se eu fizer meio Kg ou 750 g de pão essa percentagem já não necessita de ser respeitada! Perdoai-lhes, Senhor, que não sabem o que dizem! E façam o favor de ser felizes!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A "tirania" do PIB.

Pretendo um dia dar a minha opinião, neste blogue, acerca da “tirania” do PIB e dos absurdos a que a sua utilização como medida absoluta da qualidade de vida da população de um país podem levar. Entretanto, e enquanto a falta de tempo ou a preguiça me impedirem de explanar por escrito a minha opinião acerca desse tema, deixo aqui um texto da autoria de João Pinto e Castro - Director Geral da Ology e docente universitário – que me pareceu bastante interessante. Confesso que não lhe paguei direitos de autor nem tão pouco lhe pedi autorização para utilizar o seu texto no meu blogue, mas como uso o texto dele numa perspectiva de apenas divulgar aquilo que são as suas ideias extremamente lúcidas e, na minha opinião, uma pedrada no charco no meio da teoria económica vigente, e não com ideia de lucrar algo ou dizer mal dele, acredito sinceramente que, mesmo que venha a saber, não me irá processar!

“As gerações actuais devem ter dificuldade em acreditar que houve um tempo em que a discussão política não se centrava nas convulsões do PIB [Produto Interno Bruto], mas essa é a mais pura das verdades.
Para começar, os sistemas de contabilidade nacional hoje usados foram inventados há apenas 70 anos. Antes disso, ninguém sabia ou cuidava de saber a variação homóloga da produção no último trimestre. Uma vez generalizado o método de medição, demorou ainda algum tempo (e muita lavagem ao cérebro) até que a opinião pública o aceitasse sem reservas como uma razoável aproximação do bem-estar colectivo.
Hoje, porém, poucos contestam a bondade do PIB como critério supremo de avaliação da acção política. Estamos a crescer mais ou menos? Acentuou-se ou reduziu-se a distância em relação aos outros países? A América é mais dinâmica do que a Europa? E o Governo estimula ou tolhe o PIB?
Transformar a soma de batatas com cebolas numa operação razoável foi um feito notável dos economistas, cuja relevância depende, todavia, da aceitação da equivalência entre acumulação de bens materiais e felicidade. Como toda a obra humana, também este "felicitómetro" tem os seus defeitos: o produto nacional aumenta se eu contratar uma mulher-a-dias, mas reduz-se, contra toda a evidência, se eu me casar com ela. É assim porque a contabilidade valoriza as transacções monetárias e desdenha as que não envolvem dinheiro. Mais complicado ainda é computar a riqueza gerada quando, ao contrário do que há escassas décadas sucedia, uma grande maioria da população não produz hoje nem batatas nem pregos, mas serviços intangíveis. O engenho dos economistas logrou, porém, superar essas e outras dificuldades de natureza mais técnica. Pelo menos, é assim que pensam os crentes.
Terão razão? A produtividade da UE é, dizem-nos as estatísticas, superior à dos EUA. Porém, como os americanos trabalham em média mais horas, o produto per capita deles é maior que o dos europeus, de onde decorre que eles são mais felizes do que nós. Este raciocínio absurdo explica-se pelo facto de o lazer não ser valorizado por este sistema: trabalhar mais é sempre bom, independentemente das consequências que isso tenha sobre a saúde psicológica e mental dos indivíduos e das famílias.
Mais: para a contabilidade nacional, um euro é um euro, sem interessar quem o recebe. Está aqui implícito que a desigualdade não afecta a felicidade dos cidadãos, embora nós saibamos (e a teoria económica o confirme) que um euro adicional proporciona mais felicidade a um pobre do que a um rico.
Nos tempos longínquos em que o ensino público básico gratuito foi introduzido na Europa, a poucos interessava que isso pudesse eventualmente contribuir para aumentar a produtividade da população. O benefício esperado da educação era, primeiro, a própria educação e, segundo, a promoção da cidadania. Hoje, porém, não só os investimentos na educação, mas também na cultura, na saúde e, mais recentemente, na própria justiça, são olhados com desconfiança se não contribuírem de alguma forma para promover a competitividade das empresas e do País. Tudo o que pareça incomodar o PIB estará ipso facto tramado.
Graças a Deus - há-de haver por força algo de divino nisto - alguma investigação económica parece sugerir que aquilo que é bom para as pessoas acaba mais tarde ou mais cedo por revelar-se bom para a economia. Não sei, todavia, se poderemos ficar tranquilos, dado que, segundo Fogel (Nobel da Economia em 1993), a escravatura era um regime de trabalho eficiente à data da sua abolição nos EUA.
Faz sentido que privilegiemos o objectivo de produzir mais e mais coisas quando a esmagadora maioria dos cidadãos vive na pobreza absoluta, mas as prioridades deveriam ir-se alterando à medida que a carência extrema se reduz e que outros factores se revelam mais decisivos para a promoção da dignidade humana.Nem o PIB nem qualquer outro indicador sintético são capazes de, isoladamente, elucidar-nos sobre o grau de bem-estar de uma sociedade. Para isso, precisamos de uma pluralidade de metas variáveis em função das circunstâncias e dos desafios do momento. Já que, nesta era obcecada pela quantificação (mesmo que espúria), estamos condenados a trabalhar para as estatísticas, ao menos que seja para aquelas que mais interessam.”

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Os cornos do "Manuelinho".

Em 1637, em Évora, rebentou uma revolta por causa do aumento dos impostos e contra a dinastia filipina que então reinava em Portugal. Segundo rezam as crónicas, os responsáveis pela revolta terão sido o Procurador e o Escrivão do Povo, no entanto, as ordens para o movimento, a fim de manter o anonimato dos impulsionadores, apareceram assinadas pelo “Manuelinho”, um pobre tolo da capital alentejana.
Mais de 360 anos depois, eis que o “Manuelinho” voltou, mas desta vez para o governo. Desculpem-me, mas eu não consigo de deixar de me lembrar, de cada vez que o via, do “Manuelinho”. Já não quero falar na cara dele – que é a do “Manuelinho”, de certeza – mas das coisas a que nos habituámos a ouvir do sujeito. Desde apregoar na China para investir em Portugal, pois nós tínhamos mão-de-obra barata; até decretar o fim da crise (vê-se!); passando por receitar a ingestão de “papa Maizena” (passe a publicidade – e confesso que não pensei que Maizena era papa, julgava que era uma farinha com fins culinários diferentes da simples ingestão com leite ou água [ou vinho, como teria sido o caso antes de proferir estas declarações], mas confesso que essa não é a minha especialidade, ficaria mais esclarecido se tivesse falado em Nestum ou Cerelac – mais uma vez, passo a publicidade) a Paulo Rangel, até ao culminar, com os cornos que mostrou (estava a mostrá-los, ou a insinuar que Bernardino é que os tinha?) a Bernardino.
Sinceramente, pareceu-me excessiva a demissão do “Manuelinho” pelo simples facto de ter feito o gesto que fez. Como é óbvio, esta demissão apenas aconteceu porque estamos a 3 meses das eleições e porque o PS levou a “tareia” que levou nas europeias, senão isto tinha passado incólume como passaram as suas anteriores “calhoadas”, as baboseiras de Mário “Jamé” (o do deserto) ou a má educação e arrogância constante de ministros como Silva Pereira (nomeadamente numa entrevista com Mário Crespo) ou Santos Silva (o que gosta de malhar na direita, lembram-se?) ou a suprema falta de respeito de Sócrates de cada vez que vai à Assembleia da República, na maneira jocosa com que trata os lideres das bancadas parlamentares da oposição.
“Manuelinho” foi, portanto, vítima do timing em que fez mais uma das suas, senão nada se teria passado. No entanto, mesmo no momento da saída a coisa foi, mais uma vez, atabalhoada, com o Ministro a dizer que tinha condições para continuar e, mais tarde, a dizer-se que tinha pedido a demissão já depois de ter sido despedido. E apareceram ainda vozes a louvar o trabalho do ex-ministro, dizendo que ele tinha operado maravilhas (como a Besta, no livro do Apocalipse) e que apenas não tinha o dom da palavra e que não era um político, dizendo que se fartara de trabalhar, que tinha um currículo invejável… tenham dó. Só pode louvar o trabalho deste ex-ministro quem beneficiou com as suas acções (e serão poucos), quem é da cor dele ou quem não tem vivido neste país! (aliás, por tocar neste assunto, deixai-me também felicitar Afonso Candal pelo seu discurso na AR no dia do debate de estado da Nação: gostei muito do país que falou, deve ser um sítio espectacular para viver; se ele ler estas linhas, espero que escreva nos comentários deste blogue qual é esse país, pois estou mesmo a ponderar a hipótese de emigrar para lá!). Quanto ao currículo, quem não conhecer esta malta, que os compre. Enquanto estudante, tive oportunidade de conhecer professores mentecaptos com currículos invejáveis; enquanto cidadão, tenho oportunidade de ver que esta malta começa, desde recém licenciados (às vezes antes), como chefes de algo e vão circulando de empresa em empresa, de instituto público em instituto público, sempre em lugares de chefia, sem terem passado por baixo, sem saberem o que estão a chefiar, sem saberem nada de nada, mas sempre a acrescentar ao currículo que foram chefes disto, chefes daquilo… Que competência, a destes senhores! Acrescentem à lista de sumidades com currículos invejáveis Dias Loureiro (o tal que tinha ordenado principesco no BPN por ser de uma competência rara mas que agora, quando a coisa dá para o torto, já vem dizer que afinal o que fazia era assinar papeis sem os ler – devolva os ordenados que recebeu se afinal não fazia nada nem sabia nada do que ali andava a fazer), Oliveira e Costa e Jardim Gonçalves, tudo malta de grandes currículos (e gente séria…).
Desculpem lá, mas um indivíduo que durante 4 anos mais não fez do que fazer ao povo, sub-repticiamente, o que fez naquele dia ao deputado Bernardino Soares às claras, já devia ter sido corrido há muito tempo e não só agora porque o fez à descarada a um deputado. Faz-nos pensar se um deputado (ainda por cima comunista) vale mais do que dez milhões de pessoas.
Ah! Mas não se preocupem com o “Manuelinho”, pois ele não vai para pior pelo facto de ter sido despedido. Tenho a certeza absoluta que vai receber uma belíssima indemnização e lhe vão arranjar um tacho ainda melhor, com menor exposição pública (para não voltar a fazer ou a dizer, em público, asneiras) e a ganhar muito mais dinheiro do que ganhava como ministro, seja numa empresa pública, seja num instituto público, seja numa Fundação privada tipo Fundação das Telecomunicações (que funciona em instalações do Estado, com pessoas nomeadas pelo Estado e que eu não acredito que tenha sido criada apenas para adjudicar o fornecimento de computadores Magalhães a uma empresa privada – será que é de amigos, ou é só porque é muito boa empresa? – sem concurso público), seja numa das empresas que beneficiou enquanto foi ministro. E saber que o “Manuelinho” fica bem, é um analgésico para as minhas dores!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Morte do Michael Jackson.


Morreu o cantor Michael Jackson. Milhares de pessoas por todo o mundo choram a sua morte e prestam-lhe homenagens, como se o homem tivesse feito algo de bom pela humanidade. Se morresse um galardoado com o prémio Nobel da medicina (ou mesmo que não tivesse ganho o Nobel mas que tivesse feito grandes descobertas nessa área ou outra área de importância para a humanidade), o choro limitar-se-ia a pouco mais do que familiares e alguns amigos. Isto só vem mostrar o poder do marketing (sobretudo dos americanos, habituados a fazer de criaturas, quantas vezes com pouco valor, quase semi deuses para pessoas de mentes mais fracas) por um lado e a completa inversão de valores e de prioridades que se vive no mundo ocidental.
Não me quero alongar muito neste assunto, quer porque não tenho muito a dizer acerca disto, quer porque seria dar importância excessiva a quem a não tem (e se falo na morte de Michael Jackson não é pela importância que lhe dou, mas antes pelo disparate de que a sua morte tem vindo a ser alvo), por isso vou aqui apenas tocar nos dois tópicos que referi acima.
Em primeiro lugar, falar da inversão de valores, que é notória no facto de tanta gente que contribuiu para o progresso da humanidade e ninguém chorar a morte delas, de, muitas vezes, ser dada a notícia de raspão no noticiário ou num artigo de um oitavo de página no meio de um jornal; e para um cantor (que nem vou aqui discutir a qualidade, para não entrar em mais polémicas ainda) serem dadas honras de abertura de noticiários durante vários dias, e de primeiras páginas de jornais. Numa altura de crise económica gravíssima, de milhões de pessoas a ficarem ainda mais pobres, de aquecimento global, de uma crise política enorme num país altamente problemático como é o caso do Irão, de tragédias por esse mundo fora, se dá esta situação completamente desproporcionada de choro mundial por causa de um indivíduo que há vários anos não fazia nada, que vivia de rendimentos de discos vendidos e de concertos dados há já vários anos e que, apesar de ganhar obscenidades, ainda tinha necessidade de contrair milhões de dólares de dívidas; de um indivíduo que o que fazia na vida era cantar e dançar e que foi várias vezes acusado de molestar menores! Um indivíduo que era nítido que, mais do que um excêntrico, era alguém bastante perturbado e se não fosse famoso e muito rico, era provável que tivesse passado os últimos anos da sua vida internado num qualquer hospital psiquiátrico – mas ele não era maluco, pois como era rico, era excêntrico! É pela morte de um indivíduo destes que milhares de pessoas choram baba e ranho pelo mundo fora, como se de um messias se tratasse.
Quanto ao marketing americano, não há dúvida que Michael Jackson é um produto de uma indústria muito bem organizada e que consegue criar mitos em criaturas que, se calhar, nunca se deviam sequer ter dedicado ao mundo do entretenimento. Não vou discutir aqui se é ou não o caso de Michael Jackson, mas os americanos são especialistas em criar nomes endeusados e explorar esses nomes até ao tutano. Michael Jackson era um desses nomes que não merecia tanta fama nem tanto endeusamento. Preparem-se agora, que os americanos vão explorar isto até ao tutano: os discos que ainda há já estão a esgotar e, nos próximos anos, vamos ter lançamentos de inúmeras colectâneas de CD’s de Michael Jackson sempre com as mesmas músicas mas que os otários lá estarão a comprar, pois querem ter todos os discos que saíram deste cantor. É o Marketing americano a funcionar, mais nada. Quem quer comparar a morte de Luciano Pavarotti com a de Michael Jackson? Foi alguma loucura destas? E há alguma comparação entre a voz de um e de outro?
Mas Pavarotti foi apenas um exemplo. Poderia dar mais, mas não o vou fazer. E podem dizer, para contra argumentar comigo, que Pavarotti era apenas um cantor e Michael Jackson era mais do que isso. Pois, era um cantor mas era-o de excepção e Jackson não. E, em termos musicais, não tenho dúvida nenhuma em afirmar que o mundo perdeu mais com a morte de Carlos Paião do que com a de Michael Jackson. Só que um era português e o outro era americano e, ainda por cima, dos escolhidos pelo pessoal das grandes editoras norte americanas, entre milhares de cantores do mesmo nível, para ser elevado ao estatuto de estrela máxima. E o pessoal vai nisso. Bem diz o ditado: “todo o burro come palha, o que é preciso é saber dar-lha”. E eles sabem dar palha. O que é preciso é ser-se burro para a comer…

domingo, 28 de junho de 2009

Lições a tirar das eleições para o parlamento europeu.



Estas eleições para o parlamento europeu vêm confirmar, infelizmente, aquilo que tenho dito neste blogue. As pessoas continuam a usar o seu voto de forma irresponsável, continuam a não serem senhoras de seu voto e a serem influenciadas pelas sondagens, indo a correr atrás daquilo a que os teóricos, os donos do nosso voto, chamam de voto útil. E, claro, a par disto, somos também, cada vez mais, escravos da canalha para quem apenas interessa, ao votar, em votar no partido que defende que se possam fumar charros, fazer abortos, ou que casamentos contra natura se possam realizar.
Mas pronto, contra essa canalha nada há a fazer, as suas prioridades são as rastas, as calças rotas, as bolas de malabarismos, o cuspir fogo, os charros, enquanto os pais trabalham (normalmente gente que aufere bons rendimentos e aprecia bons vinhos, boa lagosta e bom caviar) para os deixar levar uma boa vida e, mais tarde, os “colocarem” aí num bom lugar. Esta esquerda caviar, esta esquerda bloquista, é uma esquerda muito mais perigosa do que a CDU, esta sim alvo de um voto mais verdadeiramente ideológico e importante (eu nunca disse que um partido comunista devia desaparecer, pois é um partido importante na mobilização dos trabalhadores, um partido verdadeiramente de combate e que é, muitas vezes, a voz que as pessoas têm na ditadura que vivemos entre eleições) e que nada tem de negativo. O perigo que estas eleições nos mostraram não são os mais de 11% do PCP, são os mais de 11% do PCP mais os mais de 11% do bloco, estes últimos completamente desligados da verdadeira realidade do pensamento das pessoas, até mesmo, diria, das que votam neste partido sem ser por voto de protesto (se bem se lembram – a memória é curta e os jovens já nem se lembram disto – a coligação entre vários partidos ultra radicais de estrema esquerda, insignificantes, herdados do PREC, nomeadamente a UDP, o PSR e o MDP/CDE, bem como a junção a esta amálgama de vários elementos do partido comunista que pensavam que o definhar do PCP era irreversível e que esta extrema-esquerda revolucionária e anti-democrática, mascarada de uma nova esquerda mais “arejada”, iria tender a substituir o PCP e não queriam perder o tacho nem a notoriedade). O que se passa é que as pessoas, revoltadas com as políticas de esquerda e de centro do PS e que nos têm levado ao descalabro, ao desemprego e baixa produtividade, ao crime, ao incentivo à preguiça, ao despesismo típico da esquerda, etc., em vez de votarem de acordo com as suas convicções, vão fazer um voto de protesto votando em partidos que não representam minimamente as suas ideias mas precisamente o contrário delas, só porque esse partido é o partido de protesto que tem hipóteses de eleger deputados. Lá está, à conta do voto útil vão eleger deputados que apenas vão levar a que o governo governe ainda pior, pois ao votarem na esquerda vão levar a que o governo governe ainda mais à esquerda e nos leve, cada vez mais, para o descalabro a que as políticas de esquerda nos têm conduzido (não só a nós, mas nos sítios onde governa, como é o caso da Espanha ou da Grã Bretanha, onde governos socialistas têm destruído completamente a economia dos respectivos países e o desemprego tem chegado a níveis catastróficos). E a prova disto foi o facto de senhores como Manuel Alegre, Paulo Pedroso ou António José Seguro, membros do PS, terem vindo logo no dia a seguir às eleições dizer que o que as eleições mostraram é que o povo quer que se governe mais à esquerda. Mas o governar mais à esquerda é fazer precisamente o contrário daquilo que as pessoas falam, do que as pessoas se queixam, é dar mais rendimentos mínimos, é dar mais subsídios de desemprego quando há empresas que querem trabalhadores e estes não querem trabalhar porque ficam a ganhar o mesmo e a terem que trabalhar, é continuar a ser permissivo em relação à criminalidade e arranjar justificações para os criminosos e arruaceiros (como é o caso dos últimos desacatos num bairro de Setúbal e há uns tempos em Loures), é abrir ainda mais as portas à imigração que, como se tem visto, tem feito aumentar o crime em geral e o crime violento em particular, é dar mais direitos aos criminosos, é o preocupar-se em demasia com os direitos humanos de indivíduos que, pela maneira como vivem na nossa sociedade e pelo valor que dão à vida dos outros, não deviam ter qualquer direito, é continuar a defender mais e melhores condições para os condenados a penas de prisão e não considerar que esses indivíduos deviam trabalhar para pagar os custos que implicam a sua manutenção (mal vai o país que obriga estudantes a pagar propinas para pagar o seu custo na universidade ou taxas moderadoras nos hospitais a quem está doente, para pagar os seus custos, ou custas judiciais por se recorrer a um tribunal para fazer justiça tarde e a más horas – e, tantas vezes, sem que essa justiça não seja feita – mas não obriga criminosos que estão a cumprir pena por causarem males à sociedade a pagarem os custos da sua privação de liberdade ou imigrantes ilegais a pagar a sua viagem de regresso quando são alvos de expulsão do país). Porque isto é verdade! Eu lembro-me bem, quando era estudante, que as pessoas que por não terem filhos a estudar nas universidades públicas e por “dor de cotovelo” eram a favor da mentira que era espalhada de que “não são os pais dos que não têm filhos a estudar nas universidades públicas que têm que pagar o ensino dos que lá estudam” (sem nunca se preocuparem se os seus impostos eram baixados ou não, apenas por terem a mentalidade de “tramar” os outros) mas nunca vi ninguém se revoltar pelo facto de estar a sustentar bandidos na prisão sem ter lá filhos presos ou a pagar viagens caras a imigrantes ilegais no seu regresso a casa… Mas a extrema-esquerda defende isto, defende que os criminosos que estão presos são criaturas cheias de direitos, que a um assassino que não respeitou o direito à vida de outra pessoa (um direito humano fundamental – o direito à vida) têm que ser respeitados uma série de direitos humanos, tais como o de não poder ser obrigado a trabalhar, ao menos para pagar o seu sustento, em vez de obrigar os familiares e amigos das vítimas a sustentarem a sua vida ociosa dentro de uma prisão, como se a pena de prisão fosse apenas uma pena de privação de liberdade e não também uma expiação pelo crime cometido e um ressarcir a sociedade por um mal que lhe causou. (já agora, lembro que, ao contrário do que essa malta de extrema-esquerda apregoa enquanto não está no poder, no intuito de mostrar a pele de cordeiro que veste por cima da pele de lobo e enganar as pessoas, nos países comunistas os detidos iam todos trabalhar e não de uma forma meiga – quem não se lembra dos campos de trabalho na Sibéria, onde todos os presos eram obrigados a trabalhar como escravos, horas intermináveis por dia, com uma mísera ração que muitas vezes era abaixo do nível de subsistência – leia-se, a propósito disto, “Um dia a vida de Ivan Denisovic”, de Alexandre Sojenitsin, prémio Nobel da Literatura).
Eu sei que este regime está podre, que foi apodrecido pela alternância no poder entre dois partidos praticamente iguais e ambos (um mais do que o outro) neo liberais e com tiques de esquerda, mas não é com votos de protesto no bloco de esquerda que as coisas vão melhorar. As coisas só podem melhorar com votos mais à direita (de preferência com a criação de um verdadeiro partido de direita com gente séria, competente e com vontade de servir e longe de ideologias esquerdistas ou liberais puras) e nunca mostrando aos autistas e corruptos que nos governam que o povo quer uma viragem à esquerda (quando não quer, eu sei a quantidade de pessoas que abominam a ideologia do bloco e que foram votar nele, por ser “o único que chateia os gajos”), pois pode acontecer, se se deixarem de voto útil no voto de protesto, se todos votarem naquilo que acham mesmo, que um partido à direita cresça como cresceu o bloco e que possa ser um partido onde as pessoas de direita possam dar o seu voto de protesto. Só é preciso fazer esse voto sem pensar se o voto é útil ou não (já se viu, para quem é de direita, que o voto no bloco não é útil). E eu lembro aqui como surgiu o bloco: a coligação de vários pequenos partidos estalinistas, maoistas, trotsquistas, que concorreram uma vez juntos e elegeram um deputado. A partir daí as pessoas de extrema-esquerda (mais uma vez recordo: maoistas, trotsquistas e estalinistas, que é o que o bloco é) acreditaram e deixarem-se de votos úteis noutros partidos e começaram a fazer crescer este, depois acrescentados por charrosos, homossexuais, pseudo intelectuais e outras pessoas mais ou menos decentes. Se as pessoas quiserem, podem mostrar que isso também é possível fazer num partido de direita (é mais complicado um pouco, pois quando a direita mete um cartaz no Marquês de Pombal, em Lisboa, vem logo a esquerda e a extrema-esquerda censurá-lo e mandar tirar, mas é possível, pois eu sei que somos muitos mais do que os 12 ou 13 mil votos que um partido de direita teve nas últimas eleições – embora eu reconheça que esse partido, com alguma da gente que lá tem, não será o partido ideal, mas seria um princípio, seria um motor de arranque e logo a gente que lá está e não interessa teria que sair quando o partido começasse a crescer – ao contrário do bloco, que quando começou a crescer foi logo invadido por charrosos, malta das rastas e outros, pensado eles que, se um dia o partido chegasse ao poder, isso alguma vez continuaria, cegos do que se passa e do que se passou em países comunistas). O que não faz sentido é pessoas decentes e respeitadoras da ordem e da justiça, pessoas de direita, andarem a votar na extrema-esquerda estalinista.
Porque, meus amigos, foi a direita (não a minha direita, mas essa não teve oportunidade de mostrar o que vale, mas foi sem dúvida a direita e a democracia – mesmo não sendo a mais perfeita democracia) que construiu aquilo em que vivemos, que construiu a Europa em que vivemos, que construiu os EUA, que construiu o Japão, que construiu a Austrália e a Nova Zelândia e foi a extrema-esquerda que construiu Cuba, que construiu a Coreia do Norte, que construiu a Europa de Leste que, após 20 anos, ainda não conseguiu ultrapassar a miséria que o comunismo lhe deixou, e que está a construir a Venezuela. E é a própria direita que permite que esta extrema-esquerda fale e concorra a eleições (pois estes jamais nos deixariam concorrer se fossem eles que mandassem) e que, tão paradoxalmente, se preocupa se a extrema-direita tem 5 ou 6% dos votos mas não se preocupa que a extrema-esquerda, a verdadeira inimiga do nosso modo de vida, tenha, como teve em Portugal, não os 11% do PCP mas os 23% que teve. Espero que no futuro se pense um bocado nisto antes de ir dar o voto a quem não vai defender o que nós defendemos mas a quem vai fazer com que isto fique cada vez pior. Porque as coisas estão más e a distribuição de riqueza é má e as vigarices são mais que muitas, mas sempre vai valendo mais uma má distribuição de riqueza criada, do que a não distribuição por falta de criação de riqueza, que é onde a esquerda sempre nos levou e sempre nos levará. E levar-nos-á a dores de morte apenas comparáveis às sofridas nos campos de concentração estalinistas na Sibéria, sem charros para aliviar as dores!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Coitadinhos...


Nos últimos dias tem havido uns pequenos desacatos num bairro de Setúbal. Há uns meses atrás houve uns num de Loures. Antes ainda houvera na Amadora. Há uns anitos atrás houve uma arrastão numa praia (ai, desculpem, parece que a malta do Bloco de Esquerda acabou por descobrir que não foi arrastão, foi só uma malta a dançar hip-hop que, sem querer, trouxe as carteiras do pessoal, bem como relógios, fios de ouro e prata e telemóveis agarrados aos pés). Enfim, tal como na época do arrastão, nos outros casos apareceram sempre os senhores da esquerda a justificar os actos de malta que devia ser presa e/ou expulsa de Portugal; aparece nestas alturas sempre gente a justificar o que estes “jovens” (assim são chamados) fazem e, inclusivamente, a dar-lhes razão pelo que fazem. Aparecer a dizer que estas coisas acontecem por mil e uma razões e que os vândalos que não respeitam nem a paz nem a ordem ainda são as vítimas disto é, além de uma refinada mentira, um incentivo a que esta gente continue a agir como age.
Porque a verdade, toda a gente sabe disso (e se diz que não sabe ou é ingénuo – para não chamar coisa pior – ou é mentiroso), é que aquela malta é uma malta privilegiada em relação à maior parte da população: é uma malta que recebe casas de borla sem ter que se preocupar com a euribor ou com os spreads; é uma malta que vive do rendimento mínimo e não tem que se preocupar se a empresa onde trabalha vai ou não à falência; é uma malta que tem escolas (das quais não quer saber), hospitais, estradas, iluminação, etc. sem se preocupar em trabalhar e produzir para pagar isso; é uma malta que tem os carros, a roupa, os telemóveis ou o que lhe apetecer porque os rouba a quem “salta da cama” de manhã para ir trabalhar. Enfim, é uma cambada de inúteis que deveria ser violentamente repudiada por todos, que não faz mais nada do que estar no ócio, roubar e tornar a vida de quem trabalha para os sustentar num inferno.
E o pior é que a comunicação social ainda mostra as coisas como se eles fossem as vítimas; que a comunicação social dê voz a quem não tem razão nem vergonha de andar à viver à custa de todos; que a comunicação social ainda mostre, como eu vi, pessoas daquele bairro a dizer que estão a protestar porque a polícia os maltrata, porque matou mais um e já não são dois nem três que são mortos pela polícia, como se aquela escumalha tivesse sido morta por andar a dar milho aos pombos; como se fosse um pobre “jovem” que não estava a fazer mal nenhum e a polícia – malandros – mataram o rapazinho. Porque o tal “jovem” que foi morto, involuntariamente, pela polícia, era um bandido com uma cadastro recheado de crimes, um indivíduo que nunca seria mais nada na vida do que um bandido e que – fiquem chocados se quiserem, mas é a minha opinião – não deve, sequer, a sociedade fazer mais do que soltar um suspiro de alívio por haver menos um bandalho à solta. Porque a mim choca-me que se perca mais tempo com a morte de um inútil e miserável ladrão do que com um honrado funcionário de uma bomba de gasolina, de um supermercado ou proprietário de uma ourivesaria que estavam a trabalhar e são mortos por lixo como este.
E isto porque estamos, com a desculpabilização em vez da forte e severa repressão, a abrir caminho para uma sociedade onde os nossos filhos não possam viver em segurança e que sejam escravos destes selvagens que, por mais que se lhes dê nunca nada chega e onde teremos uma espécie de escravatura, pois serão cada vez menos a trabalhar para sustentar esta malta para ver se eles nos deixam mais ou menos tranquilos (mesmo assim, pouco tranquilos, e cada vez menos).
Repugna-me que aqui apareça a igreja católica de braço dado com o bloco (que é quem a quer ver cada vez mais de rastos e não quem a apoia) a dizer “coitadinhos dos jovens, que têm problemas sociais, que não têm emprego…”. Mas algum daqueles indivíduos quer trabalhar? Mas algum deles alguma vez procurou emprego? Mas algum deles trocaria a vida que leva, onde não faz nada e tem tudo (seja de mão beijada, seja a roubar, seja a vender droga) por ter que se levantar cedo, passar o dia a “vergar a mola” e chegar ao fim do dia estafado? Acho piada quando dão exemplo de malta daquela que vingou no mundo da música ou do futebol, mas não mostram dos que conseguiram sair daqueles bairros com uma profissão normal, pois isso só mostra que a esmagadora maioria daquela gente só dali quer sair se for para ser muito rica a praticar desporto ou a cantar; de outro modo, não é com eles. Em vez de andar na roubalheira de telemóveis, bancos, ourivesarias, multibancos, lojas da “NIKE”, e já que não têm nada que fazer, porque não roubar umas enchadas, uns sachos, uma luvas, umas sementes e não se põem a cultivar os terrenos mais próximos e a tirar da terra algo que ajude o sustento? Dizem que isto acontece devido à pobreza, então por que motivo no tempo de Salazar não havia esta pouca vergonha e as pessoas pobres, em vez de se porem a apedrejar a polícia, a queimar carros, contentores do lixo e ecopontos, ia “vergar a mola” e cultivar a terra até ao último centímetro quadrado? Porque antigamente, se não se trabalhasse ninguém lhe dava nada e ainda se lhe chamava vagabundo e hoje diz-se, dos vagabundos preguiçosos e violentos, que são uns coitadinhos, que são umas vítimas, dá-se-lhes tudo de mão beijada e ainda se desculpa toda a porcaria que fazem e, em troco por nos enfernizarem a vida, ainda se propõem dar-lhes mais em troca de umas tréguas temporárias!
Em vez de continuarmos a assobiar para o lado e a pedir-lhes para, por favor, se limitarem a viver e reproduzir-se à nossa custa a troco de dinheiro, devíamos ir à raiz do problema (sem descartar, como já disse, o remédio, ou seja, a repressão violenta) e a raiz está nas leis penais, na lei de estrangeiros e na lei da nacionalidade.
Não é admissível que se dêem regalias a bandidos pelo simples facto de terem nascido em Portugal. Porque razão se há-de dar a nacionalidade portuguesa ou não permitir a expulsão do país a indivíduos que não prestam, só pelo simples facto de terem nascido em Portugal? Então se eu tivesse nascido em França, num passeio dos meus pais, era francês? Então eu não posso expulsar do meu país um indivíduo que não é filho de portugueses e que só anda a enfernizar-me a vida só porque ele nasceu cá? Mesmo sabendo que ele não gosta de mim, que odeia o meu país e as suas gentes e que apenas se aproveita do facto de cá ter nascido para usar de certos privilégios (nacionalidade ou o impedimento de expulsão por ter nascido em Portugal), para fazer o que lhe apetece, ir contra todas as leis e regras da nossa sociedade, porque sabe que não o podem recambiar para o seu país de origem, eu não posso fazer nada e, antes pelo contrário, ainda tenho que o sustentar e conviver com o crime que ele comete? Então é aceitável que bandidos que são sistematicamente detidos por cometer os mais diversos crimes desde os 13 anos andem à solta? É aceitável que estes bandidos, pelo facto de cometerem crimes cuja moldura penal é inferior a 3 anos (quando não são crimes mais graves) poderem andar a ser sistematicamente detidos e logo postos em liberdade? É aceitável que neste país se faça um julgamento sumário a quem é apanhado com 1,2 gramas de álcool no sangue e não a um bandido apanhado a roubar, e ainda mais quando a sua “folha” é mais extensa que as escadas do Bom Jesus de Braga?
Só para terminar e não me alongar muito mais, vou aqui publicar uma carta que recebi na minha caixa de correio electrónico; não sei se é verdadeira ou não, mas o que interessa é que, mesmo que não o seja, poderia ser:

*Carta enviada de uma mãe para outra mãe em São Paulo, após um noticiário na TV:

De mãe para mãe...

'Vi o seu enérgico protesto diante das câmaras de televisão contra a transferência do seu filho, menor, infractor, das dependências da prisão em São Paulo para outra dependência prisional no interior do Estado de São Paulo.
Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter, para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela mesma transferência.
Vi também toda a cobertura que os média deram a este facto, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação que você, contam com o apoio de Comissões Pastorais, Órgãos e Entidades de Defesa de Direitos Humanos, ONG's, etc...

Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto. Quero, com ele, fazer coro. No entanto, como verá, também é enorme a distância que me separa do meu filho.
Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo.
Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha, para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual.

Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou cruelmente num assalto a um vídeo-clube, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite.

No próximo domingo, quando você estiver abraçando, beijando e fazendo carícias ao seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores na sua humilde campa rasa, num cemitério da periferia...

Ah! Já me ia esquecendo: e também ganhando pouco e sustentando a casa, pode ficar tranquila, pois eu estarei pagando de novo, o colchão que seu querido filho queimou lá, na última rebelião de presidiários, onde ele se encontrava cumprindo pena por ser um criminoso.
No cemitério, ou na minha casa, NUNCA apareceu nenhum representante dessas 'Entidades' que tanto a confortam, para me dar uma só palavra de conforto, e talvez indicar quais "Os meus direitos".

Para terminar, ainda como mãe, peço "por favor": Faça circular este manifesto !
Talvez se consiga acabar com esta (falta de vergonha) inversão de valores que assola o Brasil e não só...
Direitos humanos só deveriam ser para "humanos direitos" !!!

Dores? Mas quem tem dores?

sábado, 25 de abril de 2009

O Zé.

Leiam a história que se segue e vejam se se conseguem lembrar de um país que tenha uma história semelhante à do Zé.

O Zé tinha um terreno. Mas como o Zé ainda era menor, era o pai que mandava no Zé. No terreno o Zé tinha um moinho, tinha um poço, tinha um gerador, tinha um celeiro, uma casa modesta e várias máquinas agrícolas pequenas, mas do que produzia o pai tirava-lhe uma parte do rendimento, o qual guardava. Como o terreno não produzia por aí além, o Zé tinha que viver com pouco e viver uma vida modesta, não podendo fazer grandes gastos em luxos. O pai do Zé era uma pessoa severa e não admitia que o Zé reclamasse. Um dia, num dia primaveril, num dia 25 (como hoje), o pai do Zé morreu, tendo imediatamente o lugar do pai sido tomado por um padrasto. O padrasto não parecia má pessoa e começou a tratar o Zé de uma forma muito mais agradável, deixando-o desabafar as suas mágoas. Vendo também que o Zé vivia com um orçamento um bocado apertado, e para que o Zé gostasse de si, tomou uma primeira medida: pegou no dinheiro que o pai do Zé guardara e começou a dar ao Zé um pouco todos os meses, o que fez com que o Zé pudesse viver um pouco melhor e começar a comprar coisas que antes não podia. Claro que o padrasto do Zé também tinha gastos, por isso ficou com metade do que o pai do Zé guardara, para si, para os seus gastos. Durante uns tempos o Zé andou muito mais feliz, fez obras na casa, e fazia desabafos com o padrasto, coisa que o pai não lhe permitia. Entretanto, continuava a receber mais algum por mês do dinheiro que o pai lhe tinha tirado durante alguns anos e a vida seguia de vento em popa.
Só que o Zé não produzia mais do que nos tempos do pai e o dinheiro que o pai guardara estava a acabar e o Zé teria que, dentro em breve, voltar à vida anterior. Como esta melhoria de vida que estava a ter tinha sido um dos motivos por que o Zé não lamentara a substituição do pai pelo padrasto, o padrasto tratou de arranjar maneira de não privar o Zé da vida que levava – claramente muito acima da que poderia levar face ao que a quinta rendia – e tratou de ir pedir dinheiro a um vizinho. O vizinho não se importou de emprestar dinheiro, mas avisou logo que um dia este teria que ser restituído e com juros. O padrasto não se importou, pois não queria ver o Zé a levar a vida que levava antes. Claro que pediu um pouco mais do que aquele que entregou ao Zé, pois necessitava de continuar a levar a sua vidinha e até estava a precisar de trocar de carro. O Zé não sentiu, portanto, quando o dinheiro do pai acabou e continuou a levar a sua vida. Entretanto o vizinho não pôde emprestar dinheiro durante muito mais tempo sem garantias, por isso, para poder continuar a conseguir o dinheiro para que o Zé continuasse a levar a sua vida (já comprara mobílias novas a um comerciante da zona, as quais estava a pagar a prestações, com juros não muito altos, dissera-lhe o padrasto), o padrasto do Zé teve que dar o moinho como garantia. Como o tempo passou e os empréstimos eram cada vez maiores e os juros tornavam-se incomportáveis, o padrasto teve que dar o moinho ao vizinho e pagar de cada vez que o utilizava. Como os juros eram já de montantes insuportáveis, e ainda tinha que pagar pela utilização do moinho, o padrasto do Zé vendeu o poço, passando também a pagar pela água e pediu dinheiro a outro vizinho, que lho emprestou com juros. Entretanto o padrasto do Zé decidiu comprar uma mota ao Zé, para que o Zé continuasse a levar uma vida melhor do que a do tempo do pai e comprou a mota a prestações, ficando o Zé a pagar as prestações da mota, dos móveis, do dinheiro emprestado e a pagar a utilização do poço e do moinho, tudo isso sem que a quinta produzisse mais; antes pelo contrário, a quinta produzia menos, pois o padrasto dissera ao Zé para não trabalhar tanto e para dar mais passeios de mota. Para poder pagar isso tudo, o padrasto do Zé foi pedir dinheiro a outro vizinho (ficando também com algum para si, para construir uma casa maior para si e para a mãe do Zé), mas este já só lhe emprestou com uma taxa de juro mais alta, pois o risco de o Zé não lhe conseguir pagar era grande (eram já muitas dívidas que o Zé acumulava e a quinta não produzia mais) e com a garantia do gerador. Passado um tempo, e como o Zé não ganhava para tanta despesa, o padrasto vendeu o celeiro, passando o Zé a pagar renda e pagou ao vizinho que ficara com o gerador como garantia, gerador esse que vendeu a seguir também, ficando com algum para si. Como já tinha pago a esse vizinho e o dinheiro da venda do gerador também estava a acabar, o padrasto voltou a ir pedir dinheiro a esse vizinho, que lho emprestou, tendo aí ficado com algum para mobilar a sua casa como deve ser. Entretanto, o Zé decidiu comprar um LCD, um DVD e uma aparelhagem. O Zé vivia como nunca vivera: tinha tudo do bom e do melhor, trabalhava cada vez menos e passeava cada vez mais. Até uma vinha que lhe dava um trabalhão desgraçado tinha sido arrancada, para vender por bom dinheiro ao vizinho (eram umas videiras de uma casta rara, que o pai lhe comprara em tempos, com o dinheiro que lhe “roubava” todos os meses e, afinal, para quê ter aquele dinheiro todo junto se só servia para gastar em coisas que davam trabalho?). Agora o Zé comprava o vinho lá fora e se não lhe apetecesse ir tratar das batatas e dos feijões também não havia problema, pois com o dinheiro que o padrasto lhe dava sem trabalhar quase nada, podia comprar tudo aos vizinhos. E o padrasto também nunca vivera como agora: tinha uma mansão mobilada com tudo o que há de melhor e um carrão, tudo comparado com o dinheiro que pedia emprestado para o Zé.
Com o passar do tempo, já nada do que estava dentro da quinta era do Zé e este tinha que pagar para utilizar tudo o que estava na sua quinta e trabalhava cada vez menos, mas recebia cada vez mais, pois o padrasto conseguia sempre arranjar quem lhe emprestasse dinheiro.
Mas um dia… Um dia o padrasto não conseguiu arranjar quem lhe emprestasse mais… De um dia para o outro, o Zé deixou de receber dinheiro do padrasto e teve que se ficar pelos parcos rendimentos da quinta (cada vez menores), pois já ninguém emprestava mais, visto que já ninguém acreditava que o Zé conseguisse, sequer, pagar os juros do que devia, quanto mais o capital. E o Zé viu, de um momento para o outro, os vizinhos entrarem-lhe em casa para lhe tirarem o LCD. Foi ter com o padrasto para saber que raio se passava, mas este respondeu-lhe que a coisa estava má, mas, mesmo sem o LCD, ainda estava muito melhor do que nos tempos do pai, pois ainda tinha a mota, a aparelhagem, a mobília…
Quando lhe entraram na casa para lhe levar a aparelhagem e o DVD, a resposta do padrasto foi que, mesmo assim, ainda tinha a mota, as mobílias e ainda tinha um padrasto que o deixava falar à vontade, que o ouvia, ao contrário do tempo do pai…
Entretanto, levaram-lhe a mota, mas o padrasto falou-lhe que ainda estava muito melhor que nos tempos do pai, pois ainda tinha mobília e um padrasto amigo, que o ouvia…
Num piscar de olhos o Zé ficou sem todos os luxos que tinha e já não era sequer dono do que estava na quinta. Tentou recomeçar a trabalhar, mas, desabituado como estava, já lhe custava muito mais que antes; foi falar com o padrasto, mas este separara-se da mãe e tinha tudo em seu nome, pelo que a mãe ainda ficou a viver com o Zé na casa vazia. Como não produzia o suficiente para pagar o que devia, ficaram-lhe com a quinta e com a casa: fora posto na rua e não tinha onde viver. O novo dono da quinta construiu uma barraca com uns paus mal amanhados e um telhado feito com umas chapas umas por cima das outras, sem água nem luz, e pô-lo a trabalhar de sol a sol na quinta por um salário muito baixo. O dinheiro que recebia mal dava para comer mais que uma sopa quase só feita de água e para pagar os juros da dívida. O Zé estava arruinado! Iria passar o resto da vida a trabalhar como um escravo e nunca mais podia aspirar a ter o nível de vida razoável que levava nos saudosos tempos de seu pai, onde trabalhava o suficiente para não faltar nada em casa, embora sem grandes luxos… Se ao menos ele tivesse pegado no dinheiro que o pai lhe deixara e o tivesse gasto a comprar um tractor, podia ter aumentado a produtividade da sua quinta, podia ter passado a ter uma vida menos dura e ainda podia ter feito uns biscates nos terrenos dos vizinhos para juntar algum e comprar outra quinta e arranjar trabalhadores para trabalharem por conta dele. Mas teve o azar de arranjar um padrasto que não só lhe sacou um dinheirão como o incentivou a viver à grande sem trabalhar e tudo para que ele não tivesse saudades do pai e mostrar que consigo como padrasto a vida era muito melhor do que no tempo do pai.

Até aos dias de hoje, ainda ninguém deixou de emprestar a esse país cuja história se assemelha à do Zé, mas quando isso acontecer… Nesse país, todos os Zés terão saudades do pai.

sábado, 18 de abril de 2009

Estado de direito.


No outro dia ouvi que dívidas da banca, num valor bastante avultado, tinham prescrito ou estavam a prescrever. Ouvi também que pessoas estavam para receber coimas em casa por não terem entregue a declaração de IRS, mesmo que essa entrega não servisse para nada, pois os seus rendimentos eram tão baixos que não havia IRS a pagar. Ouvi ainda Isaltino Morais a dizer que havia uma lei que obrigava detentores de cargos públicos a declarar os seus bens, mas que essa lei não era para cumprir, e que quase ninguém a cumpre. Ainda ouvi o economista Silva Lopes (e outros) a dizer que se deviam baixar os salários. Também ouvi que os partidos da oposição (porque estão na oposição) querem uma lei contra o enriquecimento ilícito, mas o PS não quer, pois é inconstitucional (e não se pode mexer na Constituição, excepto se for para malhar no bolso do povo). E ouvi que o próximo cão da Casa Branca é um cão de água português (cão de água ibérico, para os espanhóis).
O leitor estará neste momento a interrogar-se o que é que estas coisas têm a ver entre si e porquê estarem sob o título “Estado de direito”. Pois bem, apesar de umas coisas parecerem mais desfasadas do que as outras em relação ao título e entre si, a verdade é que têm tudo a ver. Analisemos cada uma delas.
No mesmo país onde uma pessoa que ganha tão pouco que não atinge, sequer, o ordenado mínimo (não sei como conseguem viver!) e onde, normalmente, esse tipo de pessoas são pessoas relativamente ignorantes no que toca à burocracia do Estado (ganham pouco, sabem que não têm que pagar IRS e nem pensam nessas coisas inúteis como a entrega de um papel que não vai servir para nada), é multada por não ter entregue um papel inútil, os bancos, devendo milhões de euros em impostos, condenados em tribunal por isso, não pagam e vão protelando as aplicações de decisões dos tribunais, por expedientes processuais (e porque têm dinheiro para advogados mais trafulhas e os montantes em causa justificam os gastos) até estas decisões prescreverem e ficam sem pagar o que devem (esses montantes deverão sem compensados, na medida do possível, pelo que vão sacando aos desgraçados pobres, ignorantes e mal informados); este é um bom exemplo do que os nossos políticos apregoam como Estado de direito democrático.
O mesmo Estado de direito que aplica uma coima a um indivíduo que tenha um pneu careca porque está na lei que não pode circular assim; que obriga a quem fez um poço, porque a administração local não lhe pôs água em casa, a pagar licenças e taxas por extrair a água num terreno que é seu, porque está na lei; que obriga quem comprou casa própria e faz sacrifícios para a pagar e pagar um IMI que é um roubo, que é uma autêntica renda ao Estado, porque está na lei; que obriga a pagar na conta da água taxas de saneamento a quem tem fossas suas e não utiliza os esgotos públicos, pagas com o seu dinheiro, porque as câmaras não tinham feito saneamento quando as casas foram construídas, porque está na lei; que obriga as pessoas com mais de uma casa a pagar por cada casa tarifas de resíduos sólidos (como se fizesse lixo nas casas todas ao mesmo tempo) ou taxas de radiodifusão numa conta da luz por cada casa que tem (como se visse mais televisão do que uma pessoa que só tenha uma casa) e que obriga os próprios condomínios a pagar taxa de radiodifusão (como se os condóminos andassem pelas escadas e elevadores a ver televisão), porque está na lei; dizia eu, que o mesmo Estado que obriga o cidadão a pagar tudo e mais alguma coisa porque assim está escrito na lei, parece que faz leis que não são para aplicar: o caso do Sr. Isaltino Morais, que não cumpriu a lei que o obrigava a declarar o que tinha, pois parece que essa lei não era para aplicar. Isto feito pelo mesmo senhor que não se deve esquecer de aplicar aos munícipes de Oeiras todas as taxas e coimas que a lei lhe permitir aplicar! Extraordinário! Mais um bom exemplo de Estado de direito!
E é também este o Estado de direito, onde certos indivíduos (entre os quais o economista Silva Lopes, ex ministro do tempo do PREC), ao mesmo tempo que ganham quantidades obscenas de dinheiro, vêm dizer cá para fora que tem que se baixar os salários (vejam bem ao que nós chegámos, já não falam de congelar, falam de baixar, eles já não querem deixar que a inflação “coma” os salários de quem trabalha – se a inflação é baixa e “come” devagar, baixem-se mesmo!) a quem trabalha para continuar a dar cada vez mais a quem não o faz (por livre vontade ou não) e reclamam contra o aumento “brutal” do salário mínimo em 24 euros, para a valor exorbitante de 450 euros (que querem estes gajos fazer com tanto dinheiro: 450 euros?? Vida de rico!! Até já vai dar para comer quase todos os dias!!).
E temos um Estado de direito que é tão de direito que, além de a justiça não funcionar, dá tantos direitos aos criminosos que até faz com que tentar apanhar alguns seja considerado, pelos senhores do poder, inconstitucional. Pois é, ninguém consegue parar a corrupção (não interessa a quem legisla, pois eles é que são a grande parte da malta corrupta e não lhes interessa fazer leis contra si mesmos), as leis são de tal forma permissivas em relação a direitos dos arguidos, a expedientes processuais para atrasar até à prescrição, a expedientes processuais para anular provas inequívocas, que chega até a ser inconstitucional legislar de forma a condenar corruptos. Então que se pode fazer? Toca a tributar a corrupção! Quem for corrupto, ladrão, fuja ao fisco, quem, no fundo, enriquece ilegitimamente, não necessita de ter problemas com receio de “ir dentro”. No fundo a fórmula é muito simples: continuem no mesmo esquema de enriquecimento ilícito, que não vão dentro; o máximo que pode acontecer é ter que pagar impostos sobre o que se ganhou, seja na droga, seja com favores, seja com tráfico de armas ou de pessoas, seja com roubos a bancos, seja com o que for. Se forem apanhados, pagam 60% do que ganharam de forma criminosa e estão perdoados (é uma espécie de venda de indulgências). Assaltos a bancos? Taxa de imposto: 60%; venda de droga? Taxa de imposto: 60%. Desclassificar zonas de reserva ecológica nacional para a construção de centros comerciais? Taxa de imposto: esta aqui ainda não sei quanto será, mas desconfio que vai ser zero! Zero, aliás, como a maior parte do enriquecimento ilícito deste país vai continuar a ser, pois eu não acredito que bons advogados não dêem a volta a isto, ou não fossem as leis feitas por juristas que as deixam sempre cheias de lacunas para que depois possam ganhar rios de dinheiro a emitir pareceres sobre o que legislaram ou a ganhar causas em tribunal à custa de lacunas da lei, quer como advogados, quer como arguidos.
Por fim, o cão de água português (ibérico para os espanhóis). Que tem o pobre bicho a ver com isto? Nada, a não ser que é mais uma tontice que se inventa para encher de orgulho a cada vez mais vazia de comida barriga dos portugueses. É mais uma tontice para desviar a atenção dos portugueses da triste realidade em que o país está mergulhado, fazendo com que sintamos um fervor patriótico bacoco, tal como outras tontarias do género como a do maior futebolista do mundo ser português, do FC Porto que conseguiu empatar contra a rica e poderosa equipa do Manchester United em Manchester, como as constantes tolices com que gostamos de entrar para o Guiness, seja com concentrações de pais natais, seja com maiores assadores de castanhas do mundo, seja com o maior pão de ló, seja com o maior bolo rei, maior feijoada, maior largada de balões, maior árvore de natal ou com outras coisas estúpidas e inúteis com que nos bombardeiam na televisão.
E entretanto, lá vai o povo arfando de orgulho por ter um cão de raça portuguesa (ibérica, para os espanhóis) na casa branca, por acaso nascido nos Estados Unidos da América, enquanto a boca vai esquecendo, por fata de dinheiro, o sabor do pão de ló que nos pôs no Guiness, a menos que outra pastelaria, para fazer publicidade, faça outro ainda maior e o distribua pelo povo pobre, roubado, gozado, dorido de morte de tanto apertar o cinto para que outros possam, em seu nome e com sacrifício, comer o caviar pago por toda a gente e mudar a frota automóvel da Assembleia da República, a fim de ter carros que poluam menos! Isto só visto!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Descubra as diferenças...


Eça de queirós, "Uma campanha alegre", Maio de 1871


Capítulo II: Os quatro partidos políticos

Há em Portugal quatro partidos: o partido histórico, o regenerador, o reformista, e o constituinte. Há ainda outros, mas anónimos, conhecidos apenas de algumas famílias. Os quatro partidos oficiais, com jornal e porta para a rua, vivem num perpétuo antagonismo, irreconciliáveis, latindo ardentemente uns contra os outros de dentro dos seus artigos de fundo. Tem-se tentado uma pacificação, uma união. Impossível! Eles só possuem de comum a lama do Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos cobre. Quais são as irritadas divergências de princípios que os separam? - Vejamos:
O partido regenerador é constitucional, monárquico, intimamente monárquico, e lembra nos seus jornais a necessidade da economia.
O partido histórico é constitucional, imensamente monárquico, e prova irrefutavelmente a urgência da economia.
O partido constituinte é constitucional, monárquico, e dá subida atenção à economia.
O partido reformista é monárquico, é constitucional, e doidinho pela economia!
Todos quatro são católicos,
Todos quatro são centralizadores,
Todos quatro têm o mesmo afecto à ordem,
Todos quatro querem o progresso, e citam a Bélgica,
Todos quatro estimam a liberdade.
Quais são então as desinteligências? - Profundas! Assim, por exemplo, a ideia de liberdade entendem-na de diversos modos.
O partido histórico diz gravemente que é necessário respeitar as Liberdades Públicas. O partido regenerador nega, nega numa divergência resoluta, provando com abundância de argumentos que o que se deve respeitar são - as Públicas Liberdades.
A conflagração é manifesta!
Na acção governamental as dissensões são perpétuas. Assim o partido histórico propõe um imposto. Porque, não há remédio, é necessário pagar a religião, o exército, a centralização, a lista civil, a diplomacia... - Propõe um imposto.
«Caminhamos para uma ruína! - exclama o Presidente do Conselho. - O défice cresce! O País está pobre! A única maneira de nos salvarmos é o imposto que temos a honra, etc...»
Mas então o partido regenerador, que está na oposição, brame de desespero, reúne o seu centro. As faces luzem de suor, os cabelos pintados destingem-se de agonia, e cada um alarga o colarinho na atitude de um homem que vê desmoronar-se a Pátria!
— Como assim! - exclamam todos - mais impostos!?
E então contra o imposto escrevem-se artigos, elaboram-se discursos, tramam-se votações! Por toda a Lisboa rodam carruagens de aluguel, levando, a 300 réis por corrida, inimigos do imposto! Prepara-se o cheque ao ministério histórico... Zás! cai o ministério histórico!
E ao outro dia, o partido regenerador, no poder, triunfante, ocupa as cadeiras de S. Bento. Esta mudança alterou tudo: os fundos desceram mais, as transacções diminuíram mais, a opinião descreu mais, a moralidade pública abateu mais - mas finalmente caiu aquele ministério desorganizador que concebera o imposto, e está tudo confiado, esperando.
Abre a sessão parlamentar. O novo ministério regenerador vai falar.
Os senhores taquígrafos aparam as suas penas velozes. O telégrafo está vibrante de impaciência, para comunicar aos governadores civis e aos coronéis a regeneração da Pátria. Os senhores correios de secretaria têm os seus corcéis selados!
Porque, enfim, o ministério regenerador vai dizer o seu programa, e todo o mundo se assoa com alegria e esperança!
— Tem a palavra o Sr. Presidente do Conselho.
— O novo presidente: «Um ministério nefasto (apoiado, apoiado! - exclama a maioria histórica da véspera) caiu perante a reprovação do País inteiro. Porque, Senhor Presidente, o País está desorganizado, é necessário restaurar o crédito. E a única maneira de nos salvarmos...»
Murmúrios. Vozes: Ouçam! ouçam!
«...É por isso que eu peço que entre já em discussão... (atenção ávida que faz palpitar debaixo dos fraques o coração da maioria...) que entre em discussão - o imposto que temos a honra, etc. (apoiado! apoiado!)»
E nessa noite reúne-se o centro histórico, ontem no ministério, hoje na oposição. Todos estão lúgubres.
— «Meus senhores - diz o presidente, com voz cava. - O País está perdido! O ministério regenerador ainda ontem subiu ao poder, e doze horas depois já entra pelo caminho da anarquia e da opressão propondo um imposto! Empreguemos todas as nossas forças em poupar o País a esta última desgraça! - Guerra ao imposto!...»
Não, não! com divergências tão profundas é impossível a conciliação dos partidos!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A ratoeira.

Um rato, olhando por um buraco da parede, vê um lavrador e a sua mulher a abrir um pacote. Pensou que tipo de comida poderia conter.
Ao ver sair do pacote uma ratoeira, correu ao pátio a avisar o resto da bicharada da quinta.
Foi ter com a galinha, que lhe respondeu que compreendia que aquilo podia ser um grande problema para o rato, mas para ela aquilo não a incomodava nada, que não a prejudicava.
A seguir foi ter com o porco, que lhe respondeu da mesma maneira, acrescentando que se lembraria do rato nas suas preces.
Por último, foi ter com a vaca, que ironizou “Uma ratoeira? Crê que estou em perigo?”.
O rato voltou à toca cabisbaixo e triste, por ninguém se importar verdadeiramente com ele, não conseguindo obter mais que umas preces do porco.
Naquela noite ouviu-se, de repente, o som da ratoeira em acção e a mulher do lavrador levantou-se, quase às escuras, para ver o que se passava. Mas quem tinha sido apanhado na ratoeira tinha sido uma cobra venenosa e não o rato. Na semi obscuridade, e não estando a mulher a contar com uma cobra em vez de um rato, a mulher foi picada pela cobra e teve que ser levada rapidamente para o hospital.
Quando voltou, estava com muita febre, o que recomendava uma canja de galinha; o agricultor pegou na sua faca afiada e foi providenciar o ingrediente principal…
Seguidamente, a mulher piorou, o que fez com que muitos amigos e familiares a viessem visitar; para dar comida a tanta gente, o lavrador matou o porco…
Como a mulher piorou ainda mais e acabou mesmo por morrer, veio muita gente ao funeral, pois esta era uma pessoa muito querida na terra; para alimentar ainda mais gente, o lavrador matou a vaca…
Isto para dizer que não há problemas que não nos dizem respeito, pois a verdade é que quando há uma ratoeira na casa toda a quinta corre risco; que no nosso país e no nosso planeta o problema de um, é o problema de todos. E que enquanto os políticos viram o povo um contra o outro, as classes umas contra as outras, as profissões umas contra as outras, os professores, os polícias, os juízes, os magistrados, os padres, os funcionários públicos, os médicos, os enfermeiros, os farmacêuticos, os notários, os estudantes, etc., uns contra os outros, para poderem prejudicar toda a gente e ninguém se importar (pois não é nada connosco), é importante que tomemos consciência que tudo o que é criar uma ratoeira para um é criar uma ratoeira para todos e não devemos dizer, com uma recalcada inveja dos outros e olhando só para o nosso umbigo, “que é bem feito”, pois a próxima ratoeira será posta para nós e a resposta dos outros será a mesma que a gente deu. E que temos que lutar todos juntos contra as ratoeiras que nos continuam a pôr todos os dias e acabar com o saque a que nos sujeitam constantemente para sustentar as clientelas políticas e temos que deixar de ter vergonha de dizer “NÃO!” .
Pois, como dizia o poeta russo Maiakovski (1893-1930) antes de ser assassinado após a revolução de Lenine:

Na primeira noite, eles aproximam-se
e colhem uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam o nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

Depois de Maiakovski houve aplicações às várias realidades…

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho o meu emprego
Também não me importei
Agora estão-me a levar
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)


Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e levaram-me;
já não havia mais ninguém para reclamar...
Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazis.


Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os autocarros, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho...
Cláudio Humberto, 2007
Não podemos continuar de braços cruzados a assobiar para o lado, como se não fosse nada connosco. Temos que tomar as dores de morte dos outros como nossas.